domingo, 20 de março de 2016

DOMINGO DE RAMOS - Ano C


Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD

DOMINGO DE RAMOS - Ano C



Lc 19,28-40

Bendito aquele que vem em nome do Senhor!



Oração do dia

Deus eterno e todo-poderoso, para dar aos homens um exemplo de humildade, quisestes que o nosso salvador se fizesse homem e morresse na cruz. Concedei-nos aprender o ensinamento da sua paixão e ressuscitar com ele em sua glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Evangelho - Procissão - Lc 19,28-40

+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 19,28-40
Naquele tempo:
 28Jesus caminhava à frente dos discípulos,
 subindo para Jerusalém.
 29Quando se aproximou de Betfagé e Betânia,
 perto do monte chamado das Oliveiras,
 enviou dois de seus discípulos, dizendo:
 30'Ide ao povoado ali na frente.
 Logo na entrada encontrareis um jumentinho amarrado,
 que nunca foi montado.
 Desamarrai-o e trazei-o aqui. 
31Se alguém, por acaso, vos perguntar:
 'Por que desamarrais o jumentinho?', 
respondereis assim: 'O Senhor precisa dele'. 
32Os enviados partiram e encontraram tudo
exatamente como Jesus lhes havia dito.
 33Quando desamarravam o jumentinho,
 os donos perguntaram:
 'Por que estais desamarrando o jumentinho?'
 34Eles responderam: 'O Senhor precisa dele.'
35E levaram o jumentinho a Jesus.
 Então puseram seus mantos sobre o animal
e ajudaram Jesus a montar.
 36E enquanto Jesus passava,
 o povo ia estendendo suas roupas no caminho.
 37Quando chegou perto da descida do monte das Oliveiras,
 a multidão dos discípulos, 
aos gritos e cheia de alegria,
começou a louvar a Deus
 por todos os milagres que tinha visto.
 38Todos gritavam:
 'Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor!
 Paz no céu e glória nas alturas!'
 39Do meio da multidão, alguns dos fariseus
 disseram a Jesus:
 'Mestre, repreende teus discípulos!'
 40Jesus, porém, respondeu: 'Eu vos declaro:
 se eles se calarem, as pedras gritarão.' Palavra da Salvação.

COMENTÁRIO

Quase não há comunidade católica no Brasil que não comemore hoje, com muita alegria, a entrada de Jesus em Jerusalém. São organizadas procissões, o povo abana ramos, se celebram encenações do evento. Pessoas que dificilmente pisam em uma igreja nos domingos comuns, hoje fazem questão de não perder a procissão. Porém, para não reduzirmos a comemoração a mero folclore, é importante estudar o que significava este evento para Jesus, e para o evangelista.
Dificulta o nosso entendimento da passagem a nossa pouca familiaridade com o Antigo Testamento. Cumpre relembrar um trecho do profeta Zacarias: “Dance de alegria, cidade de Sião; grite de alegria, cidade de Jerusalém, pois agora o seu rei está chegando, justo e vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento, num jumentinho, filho duma jumenta... Anunciará a paz a todas as nações, e o seu domínio irá de mar a mar, do rio Eufrates até os confins da terra” (Zc 9, 9-10). Esse era um trecho muito importante na espiritualidade do “pobres de Javé”, que esperavam a chegada do Messias libertador. Nessa esperança situam-se Maria e José e os discípulos de Jesus. Foi dentro desta espiritualidade que Jesus foi criado. Zacarias traçava as características do messias - seria um rei, “justo e pobre”, não de guerra, mas de paz! Viria estabelecer uma sociedade diferente da sociedade opressora do tempo de Zacarias (e de Jesus, e de nós) - onde os poderosos e violentos oprimiam os pobres e pacíficos! Seria uma sociedade onde, entre outros elementos, a economia estaria a serviço da vida, onde todos cuidariam da “casa comum”, o planeta! Um rei jamais entraria em uma cidade montado em um jumento - o animal do pobre camponês, mas um cavalo branco de raça! Jesus, fazendo a sua entrada assim, faz uma releitura de Zacarias, e se identificou com o rei pobre, da paz, da esperança dos pobres e oprimidos!
Por isso, muitas vezes perdemos totalmente o sentido da entrada de Jesus em Jerusalém. Celebramos o evento como se fosse a entrada de um governante do Império romano – ou dos impérios dos nossos tempos - com pompa, imponência, e demonstração de poder e força. O contrário do que Jesus fez! Chamamos o evento da “entrada triunfal de Jesus” - e realmente foi, mas como triunfo de Deus, que se encarnou entre nós como Servo! Nada mais longe do sentido original desse evento do que manifestações de poderio e pompa, mesmo - ou especialmente - quando feitas em nome da Igreja e do Evangelho de Jesus!
O texto convida a todos nós a revermos as nossas atitudes. Seguimos Jesus - mas será que é o Jesus real, o Jesus de Nazaré, o Jesus rei dos pobres e humildes, o Jesus cumpridor da profecia de Zacarias? Ou inventamos outro Jesus - poderoso nos moldes da nossa sociedade, com força, poder e prestígio, conforme o mundo entende esses termos? Essa semana foi o ponto culminante de toda a vida e missão de Jesus - das suas opções concretas em favor dos oprimidos, do seu desafio à religião oficial que escondia o verdadeiro rosto de Deus, das consequências políticas e econômicas da sua proposta de uma sociedade justa e igualitária, manifestação concreta da chegada do Reino de Deus. Tudo isso levou os poderosos, romanos e judeus, a tramarem a sua morte. É importante lembrar que a paixão e morte de Jesus foram consequência da sua vida - é impossível entender o que significa a Semana Santa sem ligá-la com o resto da vida de Jesus e com a sua proposta para a sociedade e para os seus seguidores. Jesus não morreu - foi morto porque incomodava, como continua a incomodar ainda hoje os que continuam com o sistema opressor que é a expressão do anti-Reino, mesmo quando disfarçado com discurso religioso, como se fazia no Templo.
Um canto usado nas celebrações de hoje nos alerta: “Eles queriam um grande rei, que fosse forte, dominador. E por isso não creram n’Ele e mataram o salvador!” Realmente acreditamos no rei dos pobres e oprimidos, da paz e da solidariedade, da misericórdia e compaixão, ou só fazemos um folclore no Dia de Ramos, bonito, mas totalmente desvinculado da mensagem verídica e profunda do profeta Zacarias e do Evangelho de hoje?

Salmo responsorial 21/22

Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?

Riem de mim todos aqueles que me vêem,
torcem os lábios e sacodem a cabeça:
“Ao Senhor se confiou, ele o liberte
e agora o salve, se é verdade que ele o ama!”

Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?

Cães numerosos me rodeiam furiosos,
e por um bando de malvados fui cercado.
Transpassaram minhas mãos e os meus pés
e eu posso contar todos os meus ossos.

Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?

Eles repartem entre si as minhas vestes
e sorteiam entre si a minha túnica.
Vós, porém, ó meu Senhor, não fiqueis longe,
ó minha força, vinde longo em meu socorro!

Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?

Anunciarei o vosso nome a meus irmãos
e no meio da assembléia hei de louvar-vos!
Vós que temeis ao Senhor Deus, dai-lhe louvores,
glorificai-o, descendentes de Jacó,
e respeitai-o, toda a raça de Israel!

Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?



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