Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
(Corpus Christi)
Jo 6,51-58
"Este é o pão que desceu do céu"
Oração
do dia
Senhor Jesus Cristo, neste
admirável sacramento, nos deixastes o memorial da vossa paixão. Dai-nos venerar
com tão grande amor o mistério do vosso Corpo e do vosso Sangue, que possamos
colher continuamente os frutos da vossa redenção. Vós, que sois Deus com o Pai,
na unidade do Espírito Santo.
Evangelho
(João 6,51-58)
Proclamação do Evangelho de
Jesus Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo,
disse Jesus às multidões dos judeus: 6 51 "Eu
sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o
pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo".
52 A essas
palavras, os judeus começaram a discutir, dizendo: "Como pode este homem
dar-nos de comer a sua carne?"
53 Então
Jesus lhes disse: "Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a
carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós
mesmos.
54 Quem come
a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no
último dia.
55 Pois a
minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma
bebida.
56 Quem come
a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.
57 Assim
como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que
comer a minha carne viverá por mim.
58 Este é o
pão que desceu do céu. Não como o maná que vossos pais comeram e morreram. Quem
come deste pão viverá eternamente".
Palavra da Salvação.
COMENTÁRIO
Homilia de Bento XVI para a Solenidade do Corpo de Deus
em 2008
Depois do tempo forte do ano litúrgico, que
centrando-se sobre a Páscoa se prolonga por três meses primeiro os quarenta
dias da Quaresma, depois os cinquenta dias do Tempo pascal a liturgia faz-nos
celebrar três festas que ao contrário têm um carácter “sintético”: a Santíssima
Trindade, depois o Corpus Christi, e por fim o Sagrado Coração de Jesus. Qual é
exatamente o significado da solenidade de hoje, do Corpo e do Sangue de Cristo?
A própria celebração que estamos a realizar no-lo diz, no desenvolvimento dos
gestos fundamentais: antes de tudo reunimo-nos em volta do altar do Senhor,
para estar na sua presença; em segundo lugar faremos a procissão, isto é, o
caminhar com o Senhor; e por fim, o ajoelharmo-nos diante do Senhor, a
adoração, que já inicia na Missa e acompanha toda a procissão, mas tem o seu
ápice no momento final da bênção eucarística, quando todos nos prostraremos
diante d’Aquele que se inclinou até nós e deu a vida por nós. Detenhamo-nos
brevemente sobre estas três atitudes, para que sejam verdadeiramente expressão
da nossa fé e da nossa vida.
Portanto, o primeiro ato é o de reunir-se na
presença do Senhor. É o que antigamente se chamava “statio”. Imaginemos por um
momento que em toda a cidade de Roma haja só este único altar, e que todos os
cristãos da cidade sejam convidados a reunir-se aqui, para celebrar o Salvador
morto e ressuscitado. Isto dá-nos a ideia daquilo que foi, nas origens, a
celebração eucarística em Roma, e em muitas outras cidades onde chegava a
mensagem evangélica: havia em cada Igreja particular um só Bispo e à sua volta,
em volta da Eucaristia por ele celebrada, constituía-se a Comunidade, única
porque era uno o Cálice abençoado e um o Pão partido, como ouvimos das palavras
do apóstolo Paulo na segunda Leitura (cf. 1 Cor 10, 16-17). Vem à mente a outra
célebre expressão paulina: “Não há judeu nem grego; não há servo nem livre, não
há homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo” (Gl 3, 28). “Todos
vós sois um só”! Sente-se nestas palavras a verdade e a força da revolução
cristã, a revolução mais profunda da história humana, que se experimenta
precisamente em volta da Eucaristia: reúnem-se aqui na presença do Senhor
pessoas diversas por idade, sexo, condição social, ideias políticas. A
Eucaristia nunca pode ser um facto privado, reservado a pessoas que se
escolheram por afinidades ou por amizade. A Eucaristia é um culto público, que
nada tem de esotérico, de exclusivo. Também aqui, esta tarde, não fomos nós que
escolhemos com quem nos encontrarmos, viemos e encontramo-nos uns ao lado dos
outros, irmanados pela fé e chamados a tornarmo-nos um único corpo partilhando
o único Pão que é Cristo. Estamos unidos independentemente das nossas
diferenças de nacionalidade, de profissão, de camada social, de ideias
políticas: abrimo-nos uns aos outros para nos tornarmos um só a partir d’Ele.
Foi esta, desde os inícios, uma característica do cristianismo realizada
visivelmente em volta da Eucaristia, e é necessário vigiar sempre para que as
tentações frequentes de individualismo, mesmo se em boa fé, de facto não vão em
sentido oposto. Portanto, o Corpus Christi recorda-nos antes de tudo isto: que
ser cristãos significa reunir-se de todas as partes para estar na presença do
único Senhor e tornar-se n’Ele um só.
O segundo aspeto constitutivo é o caminhar
com o Senhor. É a realidade manifestada pela procissão, que viveremos juntos
depois da Santa Missa, quase como um seu prolongamento natural, movendo-nos
atrás d’Aquele que é a Via, o Caminho. Com a doação de Si mesmo na Eucaristia,
o Senhor Jesus liberta-nos das nossas “parálises”, faz-nos levantar e faz-nos
“proceder”, isto é, faz-nos dar um passo em frente, e depois outro, e assim
põe-nos a caminho, com a força deste Pão da vida. Como aconteceu ao profeta
Elias, que se tinha refugiado no deserto por receio dos seus inimigos, e tinha
decidido deixar-se morrer (cf. 1 Rs 19, 1-4). Mas Deus despertou-o do sono e
fez-lhe encontrar ao lado um pão cozido: “Levanta-te e come disse-lhe porque
ainda tens um caminho longo a percorrer” (1 Rs 19, 5.7). A procissão do Corpus
Christi ensina-nos que a Eucaristia nos quer libertar de qualquer abatimento e
desencorajamento, quer fazer-nos levantar, para que possamos retomar o caminho
com a força que Deus nos dá mediante Jesus Cristo. É a experiência do povo de
Israel no êxodo do Egito, a longa peregrinação através do deserto, da qual nos
falou a primeira Leitura. Uma experiência que para Israel é constitutiva, mas
resulta exemplar para toda a humanidade. De facto, a expressão “nem só de pão
vive o homem, mas… de tudo o que sai da boca do Senhor” (Dt 8, 3) é uma
afirmação universal, que se refere a todos os homens enquanto homens. Cada um
pode encontrar o próprio caminho, se encontrar Aquele que é Palavra e Pão de
vida e se deixar guiar pela sua presença amiga. Sem o Deus-conosco, o Deus
próximo, como podemos enfrentar a peregrinação da existência, quer
individualmente quer em comunidade e família de povos? A Eucaristia é o
Sacramento do Deus que não nos deixa sozinhos no caminho, mas se coloca ao
nosso lado e nos indica a direção. De facto, não é suficiente ir em frente, é
preciso ver para onde se vai! Não é suficiente o “progresso”, se não há
critérios de referência. Aliás, se se andar fora do caminho, corre-se o risco
de cair num precipício, ou contudo de se afastar mais rapidamente da meta. Deus
criou-nos livres, mas não nos deixou sozinhos: Ele mesmo se fez “via” e veio
caminhar juntamente conosco, para que a nossa liberdade tenha também o critério
para discernir o caminho justo e percorrê-lo.
E a este ponto não se pode deixar de pensar
no início do “decálogo”, os dez mandamentos, onde está escrito: “Eu sou o
Senhor, teu Deus, que te fez sair do Egito, de uma casa de escravidão. Não
terás outro Deus além de Mim” (Êx 20, 2-3). Encontramos aqui o sentido do
terceiro elemento constitutivo do Corpus Christi: ajoelhar-se em adoração
diante do Senhor. Adorar o Deus de Jesus Cristo, que se fez pão repartido por
amor, é o remédio mais válido e radical contra as idolatrias de ontem e de
hoje. Ajoelhar-se diante da Eucaristia é profissão de liberdade: quem se
inclina a Jesus não pode e não deve prostrar-se diante de nenhum poder terreno,
mesmo que seja forte. Nós, cristãos, só nos ajoelhamos diante do Santíssimo
Sacramento, porque nele sabemos e acreditamos que está presente o único Deus
verdadeiro, que criou o mundo e o amou de tal modo que lhe deu o seu Filho
único (cf. Jo 3, 16). Prostramo-nos diante de um Deus que foi o primeiro a
inclinar-se diante do homem, como Bom Samaritano, para o socorrer e dar a vida,
e ajoelhou-se diante de nós para lavar os nossos pés sujos. Adorar o Corpo de
Cristo significa crer que ali, naquele pedaço de pão, está realmente Cristo,
que dá sentido verdadeiro à vida, ao imenso universo como à menor criatura, a
toda a história humana e à existência mais breve. A adoração é a oração que
prolonga a celebração e a comunhão eucarística na qual a alma continua a
alimentar-se: alimenta-se de amor, de verdade, de paz; alimenta-nos de
esperança, porque Aquele diante do qual nos prostramos não nos julga, não nos
esmaga, mas liberta-nos e transforma-nos.
Eis por que reunir-nos, caminhar, adorar nos
enche de alegria. Fazendo nossa a atitude adorante de Maria, que neste mês de
Maio recordamos de modo particular, rezemos por nós e por todos; rezemos por
todas as pessoas que vivem nesta cidade, para que Te possam conhecer, ó Pai, e
Àquele que Tu enviaste, Jesus Cristo. E desta forma ter a vida em abundância.
Amém.
Salmo 147/147B
Glorifica o Senhor, Jerusalém;
celebra teu Deus, ó Sião!
Glorifica o Senhor,
Jerusalém!
Ó Sião, canta louvores ao
teu Deus!
Pois reforçou com segurança
as tuas portas,
e os teus filhos em teu
seio abençoou.
Glorifica o Senhor, Jerusalém;
celebra teu Deus, ó Sião!
A paz em teus limites
garantiu
e te dá como alimento a
flor do trigo.
Ele envia suas ordens para
a terra,
e a palavra que ele diz
corre veloz.
Glorifica o Senhor, Jerusalém;
celebra teu Deus, ó Sião!
Anuncia a Jacó sua palavra,
seus preceitos e suas leis
a Israel.
Nenhum povo recebeu tanto
carinho,
a nenhum outro revelou os
seus preceitos.
Glorifica o Senhor, Jerusalém;
celebra teu Deus, ó Sião!
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