sexta-feira, 5 de agosto de 2011

18º Domingo Comum - ano A

Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD
  
Décimo Oitavo Domingo Comum
Mt 14,13-21
“Dai-lhes vós mesmos de comer”
Oração do dia
Manifestais, ó Deus, vossa inesgotável bondade para com os filhos e filhas que vos imploram e se gloriam de vos ter como criador e guia, restaurando para eles a vossa criação e conservando-a renovada. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Evangelho - Mt 14,13-21

+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.

Naquele tempo: 14,13Quando soube da morte de João Batista, Jesus partiu e foi de barco para um lugar deserto e afastado. Mas quando as multidões souberam disso, saíram das cidades e o seguiram a pé. 14Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes. 15Ao entardecer, os discípulos aproximaram-se de Jesus e disseram: 'Este lugar é deserto e a hora já está adiantada. Despede as multidões, para que possam ir aos povoados comprar comida!' 16Jesus porém lhes disse: 'Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer!' 17Os discípulos responderam: 'Só temos aqui cinco pães e dois peixes.' 18Jesus disse: 'Trazei-os aqui.' 19Jesus mandou que as multidões se sentassem na grama. Então pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção. Em seguida partiu os pães, e os deu aos discípulos. Os discípulos os distribuíram às multidões. 20Todos comeram e ficaram satisfeitos, e dos pedaços que sobraram, recolheram ainda doze cestos cheios. 21E os que haviam comido eram mais ou menos cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças. Palavra da Salvação.

COMENTÁRIO

No Evangelho de Mateus, o texto do Evangelho de hoje vem logo após a história da morte de João Batista, ligada à festa de aniversário do Tetrarca Herodes Antipas. Mateus contrasta o “Banquete da Morte” promovida por Herodes, com “O Banquete da Vida”, protagonizado por Jesus!
O milagre normalmente chamado “A Multiplicação dos Pães”, é o único milagre de Jesus relatado nos quatro Evangelhos. Isso aponta à importância dada nas primeiras comunidades a este relato, tanto que a sua memória persistiu não somente nas comunidades da tradição Sinótica (Mc, Mt, e Lc), mas também na Comunidade do Discípulo Amado.
Mesmo fazendo leitura superficial dos quatro relatos (Mc 6, 30-44; Lc 9, 10-17; Mt 14, 13-21; Jo 6, 1-15), alguns elementos importantes soltam aos olhos: A reação dos discípulos diante do problema da fome da multidão. Nos Sinóticos, a solução sugerida por eles é a de despedir a turba para que pudesse comprar pão. Assim, ignora a situação dos que não tinham possibilidade de comprar! É a solução de muita gente hoje diante do escândalo da pobreza no mundo - que se virem! Cada um para si! Quem não tem condições, que se lasque! Jesus rejeita claramente essa “solução” - “Dai-lhes vós mesmos de comer!” Em João, Marcos e Lucas, a proposta de comprar pão para doá-lo também se revela uma solução inadequada. Jesus insiste “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Ele não aceita nem a solução de “lavar as mãos” diante da fome alheia ou de cair em um assistencialismo. Ele desafia a comunidade dos discípulos a achar uma saída baseada numa nova proposta de vida - a da partilha!
Em nenhum dos quatro relatos se usa o verbo “multiplicar”! O motivo é simples - se a ênfase caísse sobre o “multiplicar” milagroso, teria poucas consequências para os discípulos (nós, hoje), pois não temos possibilidade de “multiplicar” as coisas. Os verbos são bem escolhidos: “benzer, partir, dar, distribuir” - porque todos nós podemos partilhar os bens materiais e espirituais que temos.
O Brasil não precisa “multiplicar” terras, bens ou renda. Tem mais do que o suficiente. Mas é urgente partilhar e redistribuir os bens que Deus nos deu para o sustento de todos!
Menos do que João, mas muito mais do que Lucas e Marcos, Mateus liga a sua narrativa à instituição eucarística (Mt 26, 26). Também concentra a atenção nos pães, pois neste relato somente eles são distribuídos. Assim o texto nos lembra que a participação eucarística exige compromisso com uma visão social baseada na partilha dos bens necessários para a vida, e não na acumulação da parte de alguns, junto com a falta do básico para muitos. O cristão não pode compactuar com uma sociedade organizada conforme os princípios de Herodes; mas, deve lutar para a construção de uma sociedade em favor da vida, seguindo as pegadas de Jesus de Nazaré.
O texto de hoje relê Êx 16, (o maná), Nm 11 (as codornas) e 2Rs 4, 1-7.42-44 (onde Eliseu distribuiu óleo e pão). O texto do Êx. 16 enfatiza que a avareza de acumular coisas às custas dos outros leva à podridão.
É claro que diante do enorme sofrimento da maioria da população do mundo, a gente pode sentir-se tão impotente como se sentiram os discípulos no Evangelho de hoje. Mas, o texto nos ensina que não devemos cair na cilada de aceitar as saídas falsas propostas pela sociedade vigente e hegemônica - ou de “lavar as mãos” ou de cair somente num simples assistencialismo. O cristão, sustentado pela eucaristia, a Mesa da Palavra e a Mesa do Pão, deve se comprometer com uma visão cristã da sociedade, que exige que nós façamos o que é possível para a construção de um mundo de justiça, e fraternidade.
Há dois mil anos, Jesus olhou a multidão, teve compaixão dela e agiu. Com certeza, Ele olha hoje a situação de tantos irmãos e irmãs e pede que os seus seguidores façam algo para mudar a situação. É comum os jornais trazerem do aumento assustador da fome no mundo por causa da crescente falta de alimentos e do aumento dos preços de alimentos básicos. Paira sobre nós cristãos o desafio do texto de hoje: “Dai-lhes vos mesmo de comer!” O que significa isso na prática para mim, para você, para as nossas Igrejas, na situação concreta da nossa vida?


Salmo - Sl 144,8-9.15-16.17-18 (R.cf.16)

R. Vós abrís a vossa mão e saciais os vossos filhos.

8Misericórdia e piedade é o Senhor,*
  ele é amor, é paciência, é compaixão.
9O Senhor é muito bom para com todos,*
  sua ternura abraça toda criatura.

R. Vós abrís a vossa mão e saciais os vossos filhos.

15Todos os olhos, ó Senhor, em vós esperam *
   e vós lhes dais no tempo certo o alimento;
16vós abris a vossa mão prodigamente *
  e saciais todo ser vivo com fartura.

R. Vós abrís a vossa mão e saciais os vossos filhos.

17É justo o Senhor em seus caminhos,*
  é santo em toda obra que ele faz.
18Ele está perto da pessoa que o invoca,*
  de todo aquele que o invoca lealmente.

R. Vós abrís a vossa mão e saciais os vossos filhos.



17º Domingo Comum - ano A



Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD

DÉCIMO SÉTIMO DOMINGO COMUM

Mt 13, 44-52

“Vocês compreenderam tudo isso?”

Oração do dia
Ó Deus, sois o amparo dos que em vós esperam e, sem vosso auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo; redobrai de amor para conosco, para que, conduzidos por vós, usemos de tal modo os bens que passam, que possamos abraçar os que não passam. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Evangelho - Mt 13,44-52

+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus
Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 13,44'O Reino dos Céus é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo. 45O Reino dos Céus também é como um comprador que procura pérolas preciosas. 46Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquela pérola. 47O Reino dos Céus é ainda como uma rede lançada ao mar e que apanha peixes de todo tipo. 48Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os que não prestam. 49Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão para separar os homens maus dos que são justos, 50e lançarão os maus na fornalha de fogo. E ai, haverá choro e ranger de dentes. 51Compreendestes tudo isso?' Eles responderam: 'Sim.' 52Então Jesus acrescentou: 'Assim, pois, todo o mestre da Lei, que se torna discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas.' Palavra da Salvação.


COMENTÁRIO


Hoje terminamos a leitura do capítulo 13 de Mateus, com as últimas três parábolas do Reino - a do tesouro escondido, a da pérola preciosa e a da rede lançada ao mar. Nas primeiras duas, podemos notar duas ênfases - uma sobre o grande valor do achado (simbolizando o Reino) e outra sobre a atitude de quem o acha. A parábola da rede no mar ecoa a mensagem da parábola do campo de trigo e joio, que fez parte do texto do domingo passado.
O contexto histórico do tesouro achado é o do Oriente Médio Antigo, palco de tantas invasões e guerras. Era prática comum enterrar os valores diante da ameaça de uma invasão ou guerra. Só que, muitas vezes, o dono morria na violência, e o tesouro ficava escondido por muito tempo, até ser achado por acaso.
Usando esse exemplo, Jesus nos ensina algo sobre o Reino e sobre a atitude do discípulo diante dele. O Reino de Deus é um valor tão incalculável, que uma pessoa sensata daria tudo para possuí-lo. É importante notar que o texto enfatiza que “cheio de alegria” ele vende todos os seus bens, para poder possuir o valor maior, que é o Reino. A vivência dos valores do Reino, do seguimento de Jesus, deve ser uma alegria e não um peso. Sem dúvida é exigente, pois meias-medidas não servem (ele vende tudo o que tem); mas, o resultado é uma alegria enorme. Não a alegria superficial de um programa de Faustão ou Sílvio Santos, mas uma alegria que brota da profundeza do nosso ser, pois descobrimos a única coisa que não passa e que dá sentido a toda a nossa vida - o Reino de Deus. É pena que, com tanta frequência, conseguimos fazer do seguimento de Jesus um peso, uma chatice, um legalismo, que afasta de Deus em lugar de atrair para Ele. É impressionante como se consegue fazer a Palavra de Deus algo tão chato, e irrelevante!
Mais uma vez, como na parábola do campo de trigo e joio, a última parábola ensina que o Reino, que subsiste na Igreja, congrega santos e pecadores (os bons e maus peixes). A separação final deve ser deixada para a justiça de Deus, enquanto, na vivência diária, devemos mostrar paciência e tolerância, mas, sem indiferença ou comodismo.
O último versículo talvez indique que o autor do Evangelho que denominamos Mateus era um escriba ou doutor da Lei, convertido ao discipulado de Jesus (é bom lembrar que os títulos tradicionais dados aos Evangelhos são somente atribuições. Nenhum evangelho identifica o seu autor, é consenso entre os exegetas que o Evangelho de Mateus não tenha sido escrito pelo apóstolo daquele nome). Ele está bem enraizado nas “coisas antigas” - ou seja, no Antigo Testamento. Mas está aberto às coisas novas, ou seja, a nova interpretação da Lei que Jesus trouxe. Assim nos ensina algo valioso para o mundo de hoje, tão inconstante e sem raízes de um lado e com a tentação de fechamento no fundamentalismo e intolerância, do outro. Nem tudo que é antigo é ultrapassado e nem tudo que é novidade é boa. Igualmente, nem tudo que é antigo tem que ser preservado e nem toda a novidade deve ser rejeitada. É importante ter critérios, para que não percamos os valores, nem da sabedoria antiga, nem da busca de atualização para os dias de hoje. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

16º Domingo Comum - ano A



Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD

DÉCIMO SEXTO DOMINGO COMUM

Mt 13, 24-43
“Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!”

Oração do dia
Ó Deus, sede generoso para com os vossos filhos e filhas e multiplicai em nós os dons da vossa graça, para que, repletos de fé, esperança e caridade, guardemos fielmente os vossos mandamentos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Evangelho - Mt 13,24-43
+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus
Naquele tempo: 13,24Jesus contou outra parábola à multidão: 'O Reino dos Céus é como um homem que semeou boa semente no seu campo. 25Enquanto todos dormiam, veio seu inimigo, semeou joio no meio do trigo, e foi embora. 26Quando o trigo cresceu e as espigas começaram a se formar, apareceu também o joio. 27Os empregados foram procurar o dono e lhe disseram: `Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde veio então o joio?' 28O dono respondeu: `Foi algum inimigo que fez isso'. Os empregados lhe perguntaram: `Queres que vamos arrancar o joio?' 29O dono respondeu: Não! pode acontecer que, arrancando o joio, arranqueis também o trigo. 30Deixai crescer um e outro até a colheita! E, no tempo da colheita, direi aos que cortam o trigo: arrancai primeiro o joio e o amarrai em feixes para ser queimado! Recolhei, porém, o trigo no meu celeiro!''
31Jesus contou-lhes outra parábola: 'O Reino dos Céus é como uma semente de mostarda que um homem pega e semeia no seu campo. 32Embora ela seja a menor de todas as sementes, quando cresce, fica maior do que as outras plantas. E torna-se uma árvore, de modo que os pássaros vêm e fazem ninhos em seus ramos.'
33Jesus contou-lhes ainda uma outra parábola: 'O Reino dos Céus é como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado.' 34Tudo isso Jesus falava em parábolas às multidões. Nada lhes falava sem usar parábolas, 35para se cumprir o que foi dito pelo profeta: Abrirei a boca para falar em parábolas; vou proclamar coisas escondidas desde a criação do mundo'.
36Então Jesus deixou as multidões e foi para casa. Seus discípulos aproximaram-se dele e disseram: 'Explica-nos a parábola do joio!' 37Jesus respondeu: Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem. 38O campo é o mundo. A boa semente são os que pertencem ao Reino. O joio são os que pertencem ao Maligno. 39O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o fim dos tempos. Os ceifadores são os anjos. 40Como o joio é recolhido e queimado ao fogo, assim também acontecerá no fim dos tempos: 41o Filho do Homem enviará os seus anjos e eles retirarão do seu Reino todos os que fazem outros pecar e os que praticam o mal; 42e depois os lançarão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes. 43Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça.' Palavra da Salvação.


COMENTÁRIO 
Esse texto continua o capítulo 13 de Mateus, onde se proclamam as parábolas do Reino. Hoje lemos três parábolas, que comparam o Reino de Deus a um campo de trigo, um grão de mostarda e o fermento na massa, quando se faz pão. Termina com uma explicação alegórica do sentido da parábola do trigo de do joio. Podemos entender essas parábolas todas como uma mensagem de esperança para a comunidade pequena mateana - e para nós hoje. Uma leitura atenta delas deve nos reanimar para a nossa caminhada e luta em favor do Reino, sem desânimo nem desesperança.
Isso fica patente nas pequenas parábolas do grão de mostrada e do fermento na massa. A semente de mostarda é minúscula, mas quando brota, forma um arbusto viçoso. Quando se faz pão, não se usa mais do que uma pequena porção de fermento, mas é o suficiente para levedar a massa toda. O efeito é desproporcional ao tamanho ou peso do grão e do fermento. Pois, eles têm um dinamismo interno que dá resultados inesperados.
Jesus aplica essas observações ao Reino de Deus. O seu crescimento depende de pessoas e coisas que aparentemente são insignificantes. Porém, onde existe uma real comunidade de discípulos; há um dinamismo interno que causa efeitos muito maiores do que a sua força humana, pois é movido pela força do Espírito de Deus. Com certeza, no tempo da redação desse evangelho, a comunidade mateana estava sentindo-se fraca demais para enfrentar a polêmica e a luta com o judaísmo rabínico formativo. Diante das expulsões das sinagogas e das famílias, da rejeição dos discípulos por seus pares, e diante da ameaça de perseguição real, muitos devem ter desanimado, sentindo-se fracos demais para esta caminhada.
Algo semelhante facilmente ocorre hoje - diante do rolo compressor da globalização do mercado, do projeto neo-liberal, muitos acham que nós não temos forças para resistir, pois somos fracos e insignificantes nos olhos dos donos do poder. Mas, isso é julgar somente com critérios humanos. É fácil esquecer a ação do Espírito e que para Deus nada é impossível. Essas duas parábolas nos ensinam a valorizar o nosso grão de mostarda e a nossa medida de fermento - ou seja, as pequenas ações e gestos de solidariedade, que trazem o dinamismo do Espírito e podem alcançar resultados surpreendentes.
Olhando as estatísticas da diminuição da mortalidade infantil no Brasil, diante de quais os governantes se ufanam, quem não sabe que em grande parte é resultado do trabalho humilde e perseverante dos membros da Pastoral da Criança, que, mesmo diante de décadas de descaso governamental diante da saúde pública, fazem verdadeiros milagres em favor da vida. E poder-se-ia multiplicar os exemplos. Olhemos com os olhos de fé e de Deus e não com os olhos do mundo, que só valoriza a força do dinheiro, do poder e da dominação.
Nesse contexto pode-se ler a parábola do campo onde foi semeado joio (erva daninha) junto com o trigo. Os servos querem arrancar à força o joio, mas o patrão não permite, pois talvez faça mais mal do que bem. Aqui o campo é o mundo, a comunidade, a Igreja. Somos uma comunidade santa e pecadora, como reza a oração eucarística. Cada comunidade, cada pessoa é ao mesmo tempo trigo e joio. A parábola alerta contra dois perigos muitas vezes presentes nas Igrejas. Uma é a tendência do puritanismo - de criar uma comunidade de “santos” ou “eleitos”, intolerante com os pecadores e com as fraquezas humanas, criando uma religião rígida e fria, que esconde o rosto misericordioso de Deus. O outro perigo é o oposto - simplesmente ignorar o joio, e assim correr o perigo que a erva daninha (os males e erros) sufoquem o trigo na comunidade. A parábola aconselha paciência e cautela, e assim quer evitar os dois entremos de “elitismo” e de laissez-faire, pois ambas as atitudes teriam como resultado a destruição da comunidade.
O Reino é de Deus e Ele não falha. Somos convidados a caminhar juntos na construção lenta, mas segura, desse Reino, apesar de sermos joio e trigo, confiantes no dinamismo do Espírito que faz com que o nosso grão de mostarda e fermento na massa dão frutos, muito além das expectativas humanas.



Salmo - Sl 85,5-6.9-10.15-16a (R. 5a)

R. Ó Senhor, vós sois bom, sois clemente e fiel!

5Ao Senhor, vós sois bom e clemente,*
sois perdão para quem vos invoca.
6Escutai, ó Senhor, minha prece,*
o lamento da minha oração!

R. Ó Senhor, vós sois bom, sois clemente e fiel!

9As nações que criastes virão*
adorar e louvar vosso nome.
10Sois tão grande e fazeis maravilhas:*
vós somente sois Deus e Senhor!

R. Ó Senhor, vós sois bom, sois clemente e fiel!

15Vós, porém, sois clemente e fiel,*
sois amor, paciência e perdão.
16aTende pena e olhai para mim!*
Confirmai com vigor vosso servo.


R. Ó Senhor, vós sois bom, sois clemente e fiel!

15º Domingo Comum - ano A



Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD


DÉCIMO QUINTO DOMINGO COMUM

Mt 13, 1-23

“Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”


Oração do dia
Ó Deus, que mostrais a luz da verdade aos que erram para retomarem o bom caminho, dai a todos os que professam a fé rejeitar o que não convém ao cristão e abraçar tudo o que é digno desse nome. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Evangelho - Mt 13,1-9
+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus
13,1Naquele dia, Jesus saiu de casa
 e foi sentar-se às margens do mar da Galiléia.
 2Uma grande multidão reuniu-se em volta dele.
 Por isso Jesus entrou numa barca e sentou-se,
 enquanto a multidão ficava de pé, na praia.
 3E disse-lhes muitas coisas em parábolas:
 'O semeador saiu para semear. 4Enquanto semeava,
 algumas sementes caíram à beira do caminho,
 e os pássaros vieram e as comeram.
 5Outras sementes caíram em terreno pedregoso,
 onde não havia muita terra.
 As sementes logo brotaram,
 porque a terra não era profunda. 
6Mas, quando o sol apareceu, 
as plantas ficaram queimadas e secaram, 
porque não tinham raiz.
 7Outras sementes caíram no meio dos espinhos.
 Os espinhos cresceram e sufocaram as plantas. 
8Outras sementes, porém, caíram em terra boa, 
e produziram à base de cem,
 de sessenta e de trinta frutos por semente.
 9Quem tem ouvidos, ouça! Palavra da Salvação.


COMENTÁRIO

Com o texto de hoje, entramos no capítulo 13 de Mateus, que, estruturalmente, é o centro do Evangelho. Tudo se concentra no ponto central da mensagem de Jesus: o Reino de Deus, que continua algo misterioso (v. 11). O capítulo consiste de sete parábolas - as parábolas do Reino - e alguma explicação delas. O trecho de hoje nos relata a parábola que é conhecida como a do semeador (embora o texto enfatize mais a semente),  junto com uma explicação do seu sentido.
O que é uma parábola? Um exegeta, C.H. Dodd, deu a seguinte definição: “Parábola: uma metáfora tirada da vida diária ou da natureza, que chama a atenção do ouvinte pelas imagens vivas ou estranhas, e que deixa-o com dúvida suficiente sobre o seu sentido exata para que seja estimulado a refletir por si mesmo.” A parábola de hoje usa imagens conhecidas na Palestina rural do então - a semeadura - e na sua forma original não trazia explicação. Terminava com o desafio de Jesus para que os ouvintes aprofundassem por si mesmos o seu sentido: “quem tem ouvidos para ouvir, ouça”.
Para entender as imagens, é bom lembrar que, na Palestina antiga, se jogava a semente antes de arar a terra. Por isso, alguma semente caía nas picadas que atravessavam os campos “à beira do caminho”; outra parte seria logo queimada pelo sol terrível do país; outra parte, comida pelas aves, outra parte perdida porque a terra era rala e cheia de ervas daninhas. Mas, uma parte cairia em terra fértil que dava frutos, conforme a sua possibilidade.
Provavelmente a explicação dada em vv. 18-23 nasceu mais tarde, durante a catequese da Igreja primitiva. Assim, no início podemos supor que o semeador era Deus, Jesus, ou um emissário d’Eles; a semente seria a Palavra de Deus e os tipos diferentes de solo, as respostas diferentes dos ouvintes. Alguns deixam o fascínio do mal, nas suas diversas formas, roubar a semente; outros acolhem a Palavra; mas, de uma maneira superficial, e não demora muito para que se torna infrutífera nas suas vidas. Outros aceitam a Revelação divina, mas a colocam em segundo plano, enquanto correm atrás das riquezas de um mundo consumista. Relegando assim Deus e o seu projeto, fazem com que a religião se torne algo de fachada, que em nada ajuda o Reino a crescer. Mas, a finalidade da história é de dar esperança. Embora haja muitos fracassos, em última instância o trabalho do semeador dá certo - sempre há pessoas que recebem com entusiasmo a Palavra, e suas vidas, baseadas na fé viva, dão muitos frutos. Não é necessário que todos deem frutos iguais - mas que todos deem conforme as suas possibilidades, cem, sessenta e trinta por um.
Depois de dois mil anos de semeadura, cabe perguntar sobre os frutos da semeadura na nossa sociedade, dita cristã. Depois de quinhentos anos das Igrejas no Brasil, será que o solo - nós cristãos – temos dado os frutos de uma sociedade justa e fraterna, conforme o desejo de Deus? Estamos sendo - individualmente e comunitariamente - quê tipo de solo? Deixamos a semente penetrar no solo dos nossos corações, ou deixamos a semente na superfície, como a que caiu à beira do caminho? Ou a aceitamos através da catequese sacramental e da tradição familiar, sem aprofundá-la, ficando numa prática estéril para manter aparências e tradição, mas que não afeta em nada a sociedade? Ou deixamos os espinhos modernos - as tentações de uma sociedade materialista, consumista, de competitividade - sufocar as reações de fraternidade e solidariedade que devem marcar os que acolhem a Palavra? Ou, com a graça de Deus, procuramos ser solo fértil, onde a fertilidade inerente na semente possa brotar em frutos de bondade e justiça, conforme as nossas possibilidades, deixando acontecer o que profetizou Segundo-Isaías: “Assim acontece com a minha Palavra que sai da minha boca: ela não volta para mim sem efeito, sem ter realizado o que eu quero e sem ter cumprido com sucesso a missão para a qual eu a mandei” (Is 55, 11). O semeador é Deus, a semente é boa - mas que tipo de solo sou eu, somos nós? “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!”


14º Domingo Comum - ano A



Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD

DÉCIMO QUARTO DOMINGO COMUM


Mt 11, 25-30

“Eu te louvo, Pai, ... porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos”



Oração
Ó Deus, que pela humilhação do vosso Filho reerguestes o mundo decaído, enchei os vossos filhos e filhas de santa alegria e Dai aos que libertastes da escravidão do pecado o gozo das alegrias eternas. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Evangelho (Mateus 11,25-30)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Por aquele tempo, Jesus pronunciou estas palavras: 11 25 “Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos. 26Sim, Pai, eu te bendigo, porque assim foi do teu agrado. 27 Todas as coisas me foram dadas por meu Pai; ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelá-lo. 28 Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. 29 Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas. 30Porque meu jugo é suave e meu peso é leve.
Palavra da Salvação.

Comentário

Os primeiros três versículos desse texto não têm uma vinculação muito estreita com o contexto em que Mateus os coloca (Lucas situa o ditado num outro contexto), e por isso “essas coisas” não se refere ao que veio antes no capítulo (a condenação de Corozaim e Betsaida), mas aos “mistérios do Reino”, que são revelados aos pequenos e humildes - neste contexto os discípulos - e escondidos aos que se acham auto-suficientes na sua sabedoria e estudo - os fariseus e doutores da Lei (Mt 13, 11). Essa oração de louvor de Jesus brotava da sua própria experiência na missão - que enquanto a sua pessoa, ensinamento e projeto de vida foram rejeitados pela elite política, econômica e religiosa da época, os pobres e massacrados pelo sistema o acolheram. A auto-suficiência da elite impediu que ela pudesse reconhecer a verdade de Jesus. Os pobres, com a sua espiritualidade do Servo de Javé, conseguiram em grande parte acolhê-Lo, mesmo sem compreender inteiramente a profundeza da sua identidade.

O texto tem ecos da literatura sapiencial e apocalíptica. Dos Sapienciais, podemos ver reflexos de Pr 8, onde a Sabedoria é personificada, Eclo 51, 1-12, 13-30 e Sab 6-8. Mas também nos faz lembrar de textos apocalípticos como Daniel, onde os sábios são incapazes de decifrar o sentido do sonho de Nabucodonosor (Dn 2, 3-13), enquanto o humilde Daniel, confiando na revelação divina, louva a Deus por lhe ter dado a sabedoria (Dn 2, 23) e revela que se trata do Reino fundado pelo próprio Deus (Dn 2, 44). No tempo de Jesus, os sábios também não conseguem decifrar os mistérios do Reino de Deus, um dom que é dado aos humildes. Em Mateus, os pequenos são os discípulos (Mt 10, 42) a quem são revelados o mistério do Reino dos Céus (Mt 13, 11).

Os versículos 26-28 são importantes, pois afirmam o relacionamento único entre Jesus e o seu “Abbá”, Pai. Aqui, a comunidade mateana expressa a sua fé em Jesus como Filho Absoluto do Pai Absoluto. É uma de três passagens em Mateus, nas quais Jesus expressa, de uma maneira indireta, ter uma relação única com Deus, seu Pai. As outras são Mt 21, 37 e 24, 36.

    A imagem do “jugo” era bastante conhecida já no Antigo Testamento (Jr 2, 20; Jr 5, 5; Os 10, 11). No judaísmo do tempo de Jesus era usada como imagem da Lei de Deus, escrita e oral (Eclo 6,24-30; 51, 26s). O termo não tinha necessariamente uma conotação de peso ou opressão quando usado assim. O nosso texto usa a imagem corrente para contrastar a interpretação farisaica da Lei, que oprimia o povo com exigências casuísticas e conceitos que excluíam muitos, com a interpretação de Jesus, que não rejeita a Lei, mas lhe devolve o seu sentido original - uma garantia de manter vivo na comunidade o projeto libertador de Javé. O problema não estava na Lei, mas na sua interpretação. Para os doutores, as práticas externas eram tão exigentes que ofuscavam o rosto misericordioso de Deus, tornando a vivência religiosa um pesadelo para muitos. A interpretação de Jesus não é “light” - é exigente, pois exige uma vivência de fraternidade, uma luta pela solidariedade e libertação e a rejeição de todo egoísmo e individualismo. No fundo, é mais exigente do que a dos fariseus, pois não se esgota em práticas externas, mas em um processo infinito de doação de si. Mas, Ele garante que este projeto de vida, por tão exigente que seja, trará a alegria do Reino de Deus.
      Esses últimos versículos nos levam a rever a nossa pregação, a nossa interpretação da Lei de Deus, a nossa prática pastoral. Pois, ao longo da história, muitas vezes a pregação nas Igrejas e na catequese tem sido uma série de legalismos moralizantes, reduzindo o cristianismo a uma prática externa de normas. Não poucas vezes, colocando fardos pesados sobre os menos fortes, sem que fosse oferecido para eles qualquer ajuda para carregá-los. Frequentemente, o seguimento de Jesus se reduzia ao cumprimento de leis, ou à vivência de uma moral ou ética, sem a revelação do Deus misericordioso e compassivo, o Deus de vida. Jesus nos mostra que, embora a religião exija leis e moral, fundamentalmente é uma mística, uma experiência do amor de Deus que nos convida a assumir o seu jugo como resposta, um jugo que não mata, mas que liberta, que não esconde o rosto de Deus, mas, que traz a alegria do Reino!

Salmo 144/145

Bendirei, eternamente, vosso nome, ó Senhor!

Ó meu Deus, quero exaltar-vos, ó meu rei,
bendizer o vosso nome pelos séculos.
Todos os dias haverei de bendizer-vos,
hei de louvar o vosso nome para sempre.

Bendirei, eternamente, vosso nome, ó Senhor!

Misericórdia e piedade é o Senhor,
ele é amor, é paciência, é compaixão.
O Senhor e muito bom para com todos,
sua ternura abraça toda criatura.

Bendirei, eternamente, vosso nome, ó Senhor!

Que vossas obras, ó Senhor, vos glorifiquem,
e os vossos santos com louvores vos bendigam!
Narrem a glória e o esplendor do vosso reino
e saibam proclamar vosso poder!

Bendirei, eternamente, vosso nome, ó Senhor!

O Senhor é amor fiel em sua palavra,
é santidade em toda obra que ele faz.
Ele sustenta todo aquele que vacila
e levanta todo aquele que tombou.

Bendirei, eternamente, vosso nome, ó Senhor!