Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
QUINTO DOMINGO DA QUARESMA - Ano C
Jo 8, 1-11
“Quem não tiver pecado, atire nela a primeira pedra”
Oração do dia
Senhor nosso Deus, dai-nos, por vossa graça, caminhar com
alegria na mesma caridade que levou o vosso Filho a entregar-se à morte no seu
amor pelo mundo. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do
Espírito Santo.
Evangelho (João 8,1-11)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.
8,1 Dirigiu-se Jesus para
o monte das Oliveiras.
2 Ao romper da manhã,
voltou ao templo e todo o povo veio a ele. Assentou-se e começou a ensinar.
3 Os escribas e os
fariseus trouxeram-lhe uma mulher que fora apanhada em adultério.
4 Puseram-na no meio da
multidão e disseram a Jesus: “Mestre, agora mesmo esta mulher foi apanhada em
adultério.
5 Moisés mandou-nos na
lei que apedrejássemos tais mulheres. Que dizes tu a isso?”
6 Perguntavam-lhe isso,
a fim de pô-lo à prova e poderem acusá-lo. Jesus, porém, se inclinou para a
frente e escrevia com o dedo na terra.
7 Como eles insistissem,
ergueu-se e disse-lhes: “Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe
atirar uma pedra”.
8 Inclinando-se
novamente, escrevia na terra.
9 A essas palavras,
sentindo-se acusados pela sua própria consciência, eles se foram retirando um
por um, até o último, a começar pelos mais idosos, de sorte que Jesus ficou
sozinho, com a mulher diante dele.
10 Então ele se ergueu e
vendo ali apenas a mulher, perguntou-lhe: “Mulher, onde estão os que te
acusavam? Ninguém te condenou?”
11 Respondeu ela:
“Ninguém, Senhor”. Disse-lhe então Jesus: “Nem eu te condeno. Vai e não tornes
a pecar”.
Palavra da Salvação.
Comentário ao Evangelho
Essa história parece muito
mais semelhante às narrativas do Evangelho de Lucas do que do Evangelho do
Discípulo Amado. De fato, não aparece nos manuscritos mais antigos de João e só
aparece pela primeira vez em versões do século terceiro. Por isso, a maioria
dos estudiosos acha que originalmente esta história circulava nas comunidades
como uma tradição independente. O copista que a inseriu talvez fizesse por
achar que ilustrasse duas frases do Quarto Evangelho: “Eu julgo a ninguém” (Jo
8, 15) e “Quem de vocês pode me acusar de pecado?” (Jo 8, 46). O tema do perdão
de uma mulher pecadora é tipicamente lucano. Alguns manuscritos situam esse
texto no Evangelho de Lucas durante as controvérsias da Semana Santa - o que
parece ser um contexto mais adequado.
O problema apresentado a
Jesus pelos fariseus é semelhante àquele do imposto em Lc 21, 27-38. A Lei
judaica prescreveu a pena de morte para uma mulher casada, pega em adultério
(Dt 22, 23-24). Mas, segundo João 18, 31, os romanos tinham retirado dos judeus
o direito de condenar alguém a morte. Portanto, se Jesus dissesse que ela
deveria ser apedrejada, ele contrariaria a lei civil dos romanos; se ele
negasse esta pena, estaria contra a lei religiosa mosaica. É uma cilada
semelhante ao dilema sobre o imposto a César em Mc 12 13-17, ou a questão sobre
o divórcio em Mt 19, 3-9. Que os seus interlocutores não se interessam pela Lei
se manifesta pelo fato de só acusarem a mulher e não o seu parceiro! Uma
atitude machista tão comum ainda na nossa sociedade.
Não se esclarece o que foi
que Jesus escreveu no chão. Alguns autores vêem uma referência a uma frase em
Jeremias: “Aqueles que se afastam de ti terão seus nomes inscritos na poeira,
porque abandonaram Javé, a fonte de água viva” (Jr 17,13). Assim seria uma
indicação que os verdadeiros culpados são aqueles que se davam o direito de
condenar a mulher.
Perguntando da mulher se os
seus acusadores não a tinham condenado, Jesus deixa claro que ele não se
identifica com eles. Ele não veio para condenar, mas para salvar! Por isso a
mulher está livre para ir - mas não para pecar de novo!
O texto ilustra mais uma
vez o recado central que vimos no evangelho do último Domingo - Deus é um Deus
de misericórdia, e não de condenação. Ele condena o pecado, o mal, mas não a
pessoa. Como em Lucas 15, 1-2 também no texto de hoje as pessoas que mais
deviam se preocupar em manifestar o rosto misericordioso do Pai, se preocupavam
mais em condenar, a partir de um legalismo que desconhecia a misericórdia.
Jesus, do outro lado, valoriza a Lei (pede que a mulher não continue a pecar)
mas tem compaixão diante da fraqueza humana. Aliás é notável que, nos
Evangelhos, Jesus nunca é duro ou rígido com as pessoas que manifestam nas suas
vidas sinais da fraqueza humana, mas é contundente com os que não têm compaixão
nem misericórdia e que escondem o verdadeiro rosto de Deus através do seu
legalismo e auto-suficiência.
Quantas vezes nas Igrejas -
até hoje - se manifesta muito mais a dureza de uma mentalidade legalista do que
a compaixão de um Deus que é “rico em misericórdia?”. Neste tempo quaresmal
preocupemo-nos em sermos manifestação do Deus verdadeiro, misericordioso e
compassivo, a exemplo de Jesus, que soube distinguir bem entre o pecado e o
pecador. “Nem eu te condeno, vá e não peca mais!”
Salmo 125/126
Maravilhas fez conosco o Senhor,
exultemos de alegria!
Quando o Senhor reconduziu nossos cativos,
parecíamos sonhar;
encheu-se de sorriso nossa boca,
nossos lábios, de canções.
Maravilhas fez conosco o Senhor,
exultemos de alegria!
Entre os gentios se dizia: “Maravilhas
fez com eles o Senhor!”
Sim, maravilhas fez conosco o Senhor,
exultemos de alegria”
Maravilhas fez conosco o Senhor,
exultemos de alegria!
Mudai a nossa sorte, ó Senhor,
como torrentes no deserto.
os que lançam as sementes entre lágrimas
ceifarão com alegria.
Maravilhas fez conosco o Senhor,
exultemos de alegria!
Chorando de tristeza sairão,
espalhando suas sementes;
cantando de alegria voltarão,
carregando
os seus feixes!
Maravilhas fez conosco o Senhor,
exultemos de alegria!
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