Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
DOMINGO DE RAMOS - Ano C
Lc 19,28-40
Bendito aquele que vem em nome do Senhor!
Oração do dia
Deus eterno
e todo-poderoso, para dar aos homens um exemplo de humildade, quisestes que o
nosso salvador se fizesse homem e morresse na cruz. Concedei-nos aprender o
ensinamento da sua paixão e ressuscitar com ele em sua glória. Por Nosso Senhor
Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Evangelho - Procissão - Lc
19,28-40
+ Proclamação do Evangelho de Jesus
Cristo segundo Lucas 19,28-40
Naquele tempo:
28Jesus
caminhava à frente dos discípulos,
subindo para Jerusalém.
29Quando
se aproximou de Betfagé e Betânia,
perto do monte chamado das Oliveiras,
enviou
dois de seus discípulos, dizendo:
30'Ide ao povoado ali na frente.
Logo
na entrada encontrareis um jumentinho amarrado,
que nunca foi montado.
Desamarrai-o
e trazei-o aqui.
31Se alguém, por acaso, vos perguntar:
'Por que
desamarrais o jumentinho?',
respondereis assim: 'O Senhor precisa dele'.
32Os
enviados partiram e encontraram tudo
exatamente como Jesus lhes havia dito.
33Quando
desamarravam o jumentinho,
os donos perguntaram:
'Por que estais desamarrando o
jumentinho?'
34Eles responderam: 'O Senhor precisa dele.'
35E
levaram o jumentinho a Jesus.
Então puseram seus mantos sobre o animal
e
ajudaram Jesus a montar.
36E enquanto Jesus passava,
o povo ia
estendendo suas roupas no caminho.
37Quando chegou perto da descida
do monte das Oliveiras,
a multidão dos discípulos,
aos gritos e cheia de
alegria,
começou a louvar a Deus
por todos os milagres que tinha visto.
38Todos
gritavam:
'Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor!
Paz no céu e glória nas
alturas!'
39Do meio da multidão, alguns dos fariseus
disseram a
Jesus:
'Mestre, repreende teus discípulos!'
40Jesus, porém,
respondeu: 'Eu vos declaro:
se eles se calarem, as pedras gritarão.' Palavra da Salvação.
COMENTÁRIO
Quase não há comunidade católica
no Brasil que não comemore hoje, com muita alegria, a entrada de Jesus em
Jerusalém. São organizadas procissões, o povo abana ramos, se celebram
encenações do evento. Pessoas que dificilmente pisam em uma igreja nos domingos
comuns, hoje fazem questão de não perder a procissão. Porém, para não
reduzirmos a comemoração a mero folclore, é importante estudar o que
significava este evento para Jesus, e para o evangelista.
Dificulta o nosso entendimento da
passagem a nossa pouca familiaridade com o Antigo Testamento. Cumpre relembrar
um trecho do profeta Zacarias: “Dance de alegria, cidade de Sião; grite de
alegria, cidade de Jerusalém, pois agora o seu rei está chegando, justo e
vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento, num jumentinho, filho duma
jumenta... Anunciará a paz a todas as nações, e o seu domínio irá de mar a mar,
do rio Eufrates até os confins da terra” (Zc 9, 9-10). Esse era um trecho muito
importante na espiritualidade do “pobres de Javé”, que esperavam a chegada do
Messias libertador. Nessa esperança situam-se Maria e José e os discípulos de
Jesus. Foi dentro desta espiritualidade que Jesus foi criado. Zacarias traçava
as características do messias - seria um rei, “justo e pobre”, não de guerra,
mas de paz! Viria estabelecer uma sociedade diferente da sociedade opressora do
tempo de Zacarias (e de Jesus, e de nós) - onde os poderosos e violentos
oprimiam os pobres e pacíficos! Seria uma sociedade onde, entre outros
elementos, a economia estaria a serviço da vida, onde todos cuidariam da “casa
comum”, o planeta! Um rei jamais entraria em uma cidade montado em um jumento -
o animal do pobre camponês, mas um cavalo branco de raça! Jesus, fazendo a sua
entrada assim, faz uma releitura de Zacarias, e se identificou com o rei pobre,
da paz, da esperança dos pobres e oprimidos!
Por isso, muitas vezes perdemos
totalmente o sentido da entrada de Jesus em Jerusalém. Celebramos o evento como
se fosse a entrada de um governante do Império romano – ou dos impérios dos
nossos tempos - com pompa, imponência, e demonstração de poder e força. O
contrário do que Jesus fez! Chamamos o evento da “entrada triunfal de Jesus” -
e realmente foi, mas como triunfo de Deus, que se encarnou entre nós como
Servo! Nada mais longe do sentido original desse evento do que manifestações de
poderio e pompa, mesmo - ou especialmente - quando feitas em nome da Igreja e
do Evangelho de Jesus!
O texto convida a todos nós a
revermos as nossas atitudes. Seguimos Jesus - mas será que é o Jesus real, o
Jesus de Nazaré, o Jesus rei dos pobres e humildes, o Jesus cumpridor da
profecia de Zacarias? Ou inventamos outro Jesus - poderoso nos moldes da nossa
sociedade, com força, poder e prestígio, conforme o mundo entende esses termos?
Essa semana foi o ponto culminante de toda a vida e missão de Jesus - das suas
opções concretas em favor dos oprimidos, do seu desafio à religião oficial que
escondia o verdadeiro rosto de Deus, das consequências políticas e econômicas
da sua proposta de uma sociedade justa e igualitária, manifestação concreta da
chegada do Reino de Deus. Tudo isso levou os poderosos, romanos e judeus, a
tramarem a sua morte. É importante lembrar que a paixão e morte de Jesus foram consequência
da sua vida - é impossível entender o que significa a Semana Santa sem ligá-la
com o resto da vida de Jesus e com a sua proposta para a sociedade e para os
seus seguidores. Jesus não morreu - foi morto porque incomodava, como continua
a incomodar ainda hoje os que continuam com o sistema opressor que é a
expressão do anti-Reino, mesmo quando disfarçado com discurso religioso, como
se fazia no Templo.
Um canto usado nas celebrações de
hoje nos alerta: “Eles queriam um grande rei, que fosse forte, dominador. E por
isso não creram n’Ele e mataram o salvador!” Realmente acreditamos no rei dos
pobres e oprimidos, da paz e da solidariedade, da misericórdia e compaixão, ou
só fazemos um folclore no Dia de Ramos, bonito, mas totalmente desvinculado da mensagem
verídica e profunda do profeta Zacarias e do Evangelho de hoje?
Salmo responsorial 21/22
Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?
Riem de mim todos aqueles que me vêem,
torcem os lábios e sacodem a cabeça:
“Ao Senhor se confiou, ele o liberte
e agora o salve, se é verdade que ele o ama!”
Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?
Cães numerosos me rodeiam furiosos,
e por um bando de malvados fui cercado.
Transpassaram minhas mãos e os meus pés
e eu posso contar todos os meus ossos.
Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?
Eles repartem entre si as minhas vestes
e sorteiam entre si a minha túnica.
Vós, porém, ó meu Senhor, não fiqueis longe,
ó minha força, vinde longo em meu socorro!
Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?
Anunciarei o vosso nome a meus irmãos
e no meio da assembléia hei de louvar-vos!
Vós que temeis ao Senhor Deus, dai-lhe louvores,
glorificai-o, descendentes de Jacó,
e
respeitai-o, toda a raça de Israel!
Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?