Pe. Thomaz Hughes, SVD
SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO REI DO UNIVERSO - ANO A
Mateus 25, 31-46
“Quando fizeram isso a um dos menores dos meus irmãos, foi a mim”
Oração do dia
Deus eterno e todo-poderoso, que dispusestes restaurar todas as
coisas no vosso amado Filho, rei do universo, fazei que todas as criaturas,
libertas da escravidão e servindo à vossa majestade, vos glorifiquem
eternamente. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito
Santo.
Evangelho - Mt 25,31-46
+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus
Naquele
tempo, disse Jesus a seus discípulos: 25,31Quando o Filho do Homem
vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu
trono glorioso. 32Todos os povos da terra serão reunidos diante
dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos
cabritos. 33E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua
esquerda. 34Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: `Vinde
benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou
desde a criação do mundo! 35Pois eu estava com fome e me destes de
comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me
recebestes em casa; 36eu estava nu e me vestistes; eu estava doente
e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar'. 37Então
os justos lhe perguntarão: `Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos
de comer? com sede e te demos de beber? 38Quando foi que te vimos
como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos? 39Quando
foi que te vimos doente ou preso, e fomos te visitar?' 40Então o Rei
lhes responderá: `Em verdade eu vos digo, que todas as vezes que fizestes isso
a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!' 41Depois
o Rei dirá aos que estiverem à sua esquerda: `Afastai-vos de mim, malditos! Ide
para o fogo eterno, preparado para o diabo e para os seus anjos. 42Pois
eu estava com fome e não me destes de comer; eu estava com sede e não me destes
de beber; 43eu era estrangeiro e não me recebestes em casa; eu
estava nu e não me vestistes; eu estava doente e na prisão e não fostes me
visitar'. 44E responderão também eles: `Senhor, quando foi que te
vimos com fome, ou com sede, como estrangeiro, ou nu, doente ou preso, e não te
servimos?' 45Então o Rei lhes responderá: `Em verdade eu vos digo,
todas as vezes que não fizestes isso a um desses pequeninos, foi a mim que não
o fizestes!' 46Portanto, estes irão para o castigo eterno, enquanto
os justos irão para a vida eterna'. Palavra da Salvação.
COMENTÁRIO
Hoje encerramos as celebrações dominicais do ano litúrgico com a festa de Cristo Rei. O evangelho de hoje é o famoso texto de Mateus 25 sobre o Juízo Final. Nesse texto, enfatiza-se a sorte eterna dos que optaram ou não pela vivência da “justiça do Reino dos Céus”. O primeiro discurso do Evangelho - o Sermão da Montanha - enfatizou que quem vivesse essa justiça seria perseguido (5, 12); o segundo discurso, o Missionário, insistiu que os discípulos não deveriam ter medo diante dessas perseguições, sofrimentos e rejeição (10, 23.28.31); o terceiro - as parábolas do Reino - ensinou a paciência e perseverança diante do lento crescimento do Reino e da fraqueza da comunidade (13); o quarto - o Discurso Eclesiológico, ou da Comunidade da Igreja - traçou as características da comunidade dos que procuram essa justiça. Agora, o último discurso - o Escatológico, ou do fim último das coisas - mostra que a vivência dessa justiça será o critério de Deus para o julgamento final. Ilustra-se, de uma maneira viva, o sentido da frase lapidar do Sermão da Montanha: “Se a justiça de vocês não for superior à dos doutores da lei e dos fariseus, não entrarão no Reino do Céu” (5, 20). Jesus - o Rei - não pergunta sobre o cumprimento das leis de ritual e de pureza, tão caras aos doutores da lei e fariseus, mas sobre a prática da justiça do Reino, diante do sofrimento de tanta gente - famintos, sedentos, migrantes, esfarrapados, doentes e presos. A prática de solidariedade com os oprimidos é a única prova de uma verdadeira fé em Jesus, e do seguimento fiel d’Ele.
Esse texto não pode deixar de nos questionar, vivendo como estamos em uma sociedade cada vez mais excludente. Celebramos hoje Jesus como “Rei do Universo”. Mas, Ele se torna rei da nossa vida somente na medida em que fazemos essa opção real pelos oprimidos, e vivenciamos “a justiça do Reino do Céu”, tema central do Evangelho de Mateus. Em um mundo que nos apresenta tantas outras opções “régias” - ou seja, opções que regem a nossa vida e manifestam o que são os nossos valores últimos, o texto nos leva a verificar se realmente Jesus é o Rei da nossa vida - se é o Evangelho d’Ele que nos rege, ou se o título não passa de mais um dos rótulos vazios, sem consequências práticas, tão queridos dos arautos de uma religião intimista, sentimentalista e individualista, tão em voga nos nossos tempos. Será que a utopia do Reino de Deus, o seguimento de Jesus até a Cruz, a prática da Justiça do Reino são os elementos que norteiam as nossas práticas, individuais e comunitárias? Se não, então Jesus Cristo ainda não se tornou Rei do nosso universo pessoal e eclesial. É o questionamento do texto de hoje, que nos lembra que Jesus não é Rei conforme os padrões deste mundo, mas o Rei pobre e justo, tão esperado pelos oprimidos de todos os tempos. A proposta d’Ele para a sociedade não é a confirmação de uma estrutura piramidal, conforme os modelos históricos, mas a sua mudança radical para que o mundo seja regido por princípios de solidariedade e justiça, de partilha e fraternidade. Ele é Rei, no sentido da esperança dos “pobres de Javé” do Antigo Testamento, tão bem retratada pelo profeta Segundo Zacarias: “O seu Rei está chegando, justo e vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento, num jumentinho, filho de uma jumenta. Ele destruirá os carros de guerra de Efraim e os cavalos de Jerusalém, quebrará o arco de guerra. Anunciará paz a todas as nações, e o seu domínio irá de mar ao mar, do Rio Eufrates até os confins da terra” (Zc 9, 9s). Jesus será o nosso rei na medida em que vivermos esses valores da verdadeira Shalom, que inclui a paz, a não violência, a partilha e a justiça.
A crise atual no sistema financeiro mundial, com as suas cifras astronômicas de apoio aos bancos e banqueiros falidos - enquanto somente migalhas são destinadas aos bilhões de famintos e sofridos do mundo - demonstra bem como a sociedade atual é dominada pelos interesses do lucro e do capital, mesmo em países que se dizem cristãos. Estamos longe de um mundo onde Jesus Cristo seja realmente o Rei - regido pelos valores que Jesus encarnou na sua pessoa, projeto, ensinamento e opções, e que nós herdamos como discípulos/as d’Ele.
Salmo - Sl 22,1-2a.2b-3.5-6 (R.1)
R. O Senhor é o pastor que me conduz;
não me falta coisa alguma.
2Pelos prados e campinas verdejantes
*
ele me leva a
descansar.
Para as águas
repousantes me encaminha, *
3e restaura as minhas forças.
R. O Senhor é o pastor que me conduz;
não me falta coisa alguma.
5Preparais à minha frente uma mesa,
*
bem à vista do
inimigo,
e com óleo vós
ungis minha cabeça; *
o meu cálice
transborda.
R. O Senhor é o pastor que me conduz;
não me falta coisa alguma.
6Felicidade e todo bem hão de
seguir-me *
por toda a minha
vida;
e, na casa do
Senhor, habitarei *
pelos tempos infinitos.
R. O Senhor é o pastor que me conduz;
não me falta coisa alguma.