segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Festa de Cristo Rei do Universo - ano A


Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD

SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO REI DO UNIVERSO - ANO A

Mateus 25, 31-46

“Quando fizeram isso a um dos menores dos meus irmãos, foi a mim”



Oração do dia
Deus eterno e todo-poderoso, que dispusestes restaurar todas as coisas no vosso amado Filho, rei do universo, fazei que todas as criaturas, libertas da escravidão e servindo à vossa majestade, vos glorifiquem eternamente. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Evangelho - Mt 25,31-46

+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 25,31Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso. 32Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. 33E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. 34Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: `Vinde benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! 35Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; 36eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar'. 37Então os justos lhe perguntarão: `Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? com sede e te demos de beber? 38Quando foi que te vimos como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos? 39Quando foi que te vimos doente ou preso, e fomos te visitar?' 40Então o Rei lhes responderá: `Em verdade eu vos digo, que todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!' 41Depois o Rei dirá aos que estiverem à sua esquerda: `Afastai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno, preparado para o diabo e para os seus anjos. 42Pois eu estava com fome e não me destes de comer; eu estava com sede e não me destes de beber; 43eu era estrangeiro e não me recebestes em casa; eu estava nu e não me vestistes; eu estava doente e na prisão e não fostes me visitar'. 44E responderão também eles: `Senhor, quando foi que te vimos com fome, ou com sede, como estrangeiro, ou nu, doente ou preso, e não te servimos?' 45Então o Rei lhes responderá: `Em verdade eu vos digo, todas as vezes que não fizestes isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizestes!' 46Portanto, estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna'. Palavra da Salvação.

COMENTÁRIO

Hoje encerramos as celebrações dominicais do ano litúrgico com a festa de Cristo Rei. O evangelho de hoje é o famoso texto de Mateus 25 sobre o Juízo Final. Nesse texto, enfatiza-se a sorte eterna dos que optaram ou não pela vivência da “justiça do Reino dos Céus”. O primeiro discurso do Evangelho - o Sermão da Montanha - enfatizou que quem vivesse essa justiça seria perseguido (5, 12); o segundo discurso, o Missionário, insistiu que os discípulos não deveriam ter medo diante dessas perseguições, sofrimentos e rejeição (10, 23.28.31); o terceiro - as parábolas do Reino - ensinou a paciência e perseverança diante do lento crescimento do Reino e da fraqueza da comunidade (13); o quarto - o Discurso Eclesiológico, ou da Comunidade da Igreja - traçou as características da comunidade dos que procuram essa justiça. Agora, o último discurso - o Escatológico, ou do fim último das coisas - mostra que a vivência dessa justiça será o critério de Deus para o julgamento final. Ilustra-se, de uma maneira viva, o sentido da frase lapidar do Sermão da Montanha: “Se a justiça de vocês não for superior à dos doutores da lei e dos fariseus, não entrarão no Reino do Céu” (5,  20). Jesus - o Rei - não pergunta sobre o cumprimento das leis de ritual e de pureza, tão caras aos doutores da lei e fariseus, mas sobre a prática da justiça do Reino, diante do sofrimento de tanta gente - famintos, sedentos, migrantes, esfarrapados, doentes e presos. A prática de solidariedade com os oprimidos é a única prova de uma verdadeira fé em Jesus, e do seguimento fiel d’Ele.
  Esse texto não pode deixar de nos questionar, vivendo como estamos em uma sociedade cada vez mais excludente. Celebramos hoje Jesus como “Rei do Universo”. Mas, Ele se torna rei da nossa vida somente na medida em que fazemos essa opção real pelos oprimidos, e vivenciamos “a justiça do Reino do Céu”, tema central do Evangelho de Mateus. Em um mundo que nos apresenta tantas outras opções “régias” - ou seja, opções que regem a nossa vida e manifestam o que são os nossos valores últimos, o texto nos leva a verificar se realmente Jesus é o Rei da nossa vida - se é o Evangelho d’Ele que nos rege, ou se o título não passa de mais um dos rótulos vazios, sem consequências práticas, tão queridos dos arautos de uma religião intimista, sentimentalista e individualista, tão em voga nos nossos tempos. Será que a utopia do Reino de Deus, o seguimento de Jesus até a Cruz, a prática da Justiça do Reino são os elementos que norteiam as nossas práticas, individuais e comunitárias? Se não, então Jesus Cristo ainda não se tornou Rei do nosso universo pessoal e eclesial. É o questionamento do texto de hoje, que nos lembra que Jesus não é Rei conforme os padrões deste mundo, mas o Rei pobre e justo, tão esperado pelos oprimidos de todos os tempos. A proposta d’Ele para a sociedade não é a confirmação de uma estrutura piramidal, conforme os modelos históricos, mas a sua mudança radical para que o mundo seja regido por princípios de solidariedade e justiça, de partilha e fraternidade. Ele é Rei, no sentido da esperança dos “pobres de Javé” do Antigo Testamento, tão bem retratada pelo profeta Segundo Zacarias: “O seu Rei está chegando, justo e vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento, num jumentinho, filho de uma jumenta. Ele destruirá os carros de guerra de Efraim e os cavalos de Jerusalém, quebrará o arco de guerra. Anunciará paz a todas as nações, e o seu domínio irá de mar ao mar, do Rio Eufrates até os confins da terra” (Zc 9, 9s). Jesus será o nosso rei na medida em que vivermos esses valores da verdadeira Shalom, que inclui a paz, a não violência, a partilha e a justiça.
 A crise atual no sistema financeiro mundial, com as suas cifras astronômicas de apoio aos bancos e banqueiros falidos - enquanto somente migalhas são destinadas aos bilhões de famintos e sofridos do mundo - demonstra bem como a sociedade atual é dominada pelos interesses do lucro e do capital, mesmo em países que se dizem cristãos. Estamos longe de um mundo onde Jesus Cristo seja realmente o Rei - regido pelos valores que Jesus encarnou na sua pessoa, projeto, ensinamento e opções, e que nós herdamos como discípulos/as d’Ele.


Salmo - Sl 22,1-2a.2b-3.5-6 (R.1)

R. O Senhor é o pastor que me conduz;
      não me falta coisa alguma.

2Pelos prados e campinas verdejantes *
  ele me leva a descansar.
  Para as águas repousantes me encaminha, *
3e restaura as minhas forças.

R. O Senhor é o pastor que me conduz;
      não me falta coisa alguma.

5Preparais à minha frente uma mesa, *
  bem à vista do inimigo,
  e com óleo vós ungis minha cabeça; *
  o meu cálice transborda.

R. O Senhor é o pastor que me conduz;
      não me falta coisa alguma.

6Felicidade e todo bem hão de seguir-me *
  por toda a minha vida;
  e, na casa do Senhor, habitarei *
  pelos tempos infinitos.

R. O Senhor é o pastor que me conduz;
      não me falta coisa alguma.





33° Domingo Comum - Ano A



Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD

TRIGÉSIMO TERCEIRO DOMINGO COMUM - ANO A

Mateus 25, 14-30

“Muito bem, empregado bom e fiel”


O Evangelho de hoje situa-se no quinto e último grande discurso do Evangelho de Mateus - o Discurso Escatológico, ou aquele que trata do fim último das coisas. O tema básico do discurso é a vigilância, ilustrada pela leitura dos sinais dos tempos (24, 1-44), a parábola do empregado responsável (24, 45-51), a das virgens prudentes e imprudentes (25, 1-13), e que vai terminar no próximo domingo, Festa de Cristo Rei, com o texto sobre o Juízo Final (25, 31-46).
O texto de hoje versa sobre os empregados e os talentos - no tempo de Jesus um talento era uma soma considerável de dinheiro, e hoje, no contexto da parábola, pode ser interpretado em termos de dons recebidos de Deus. O trecho demonstra que o importante é arriscar-se e lançar-se à ação em prol do crescimento do Reino de Deus, para que os dons que recebemos de Deus possam crescer e se frutificar (de forma alguma se deve interpretar o texto ao pé-da-letra, como se ela tratasse de investimentos e lucros financeiros, pois ele é uma parábola, que é uma comparação que usa imagens e símbolos conhecidos).
        Jesus confiou à comunidade cristã a revelação dos segredos do Reino e a revelação de Deus como o “Abbá”, ou querido Pai. Esse dom é um privilégio, mas também um desafio e uma responsabilidade. Nem a comunidade cristã, nem o cristão individual podem guardar para si essa riqueza. Embora carreguemos “esse tesouro em vasos de barro” (2Cor 4, 7), como disse São Paulo, temos que partir para a missão, para que o maior número possível chegue a essa experiência de Deus e do Reino. Não é suficiente que estejamos preparados para o encontro com o Senhor (mensagem do texto anterior a este, o das virgens) - o outro lado da medalha é a atividade missionária, que faz com que o Reino de Deus cresça, mediante o testemunho da nossa prática da justiça!

 

Festa de Todos os Santos - Ano A

Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD

FESTA DE TODOS OS SANTOS

Mt 5, 1-12a
“Fiquem alegres e contentes, porque será grande para vocês a recompensa nos céus”

Esses primeiros versículos de Cap. 5 servem ao mesmo tempo como introdução e resumo do Sermão da Montanha. Nos apresentam um retrato das qualidades do verdadeiro discípulo, daquele que, no seguimento de Jesus, procura viver os valores do Reino de Deus. Basta uma leitura superficial para ver que a proposta de Jesus está na contramão da proposta da sociedade vigente - tanto a do tempo de Jesus, como de hoje. Embora de uma forma menos contundente do que Lucas (Lc 6, 20-26), o texto de Mateus deixa claro que o seguimento de Jesus exige uma mudança radical na nossa maneira de pensar e viver.
Enquanto os Dez Mandamentos proclamam os deveres da humanidade em relação aos direitos de Deus (oito proibições e duas obrigação a serem observados pelo povo), as bem-aventuranças proclamam os direitos da humanidade em relação aos deveres de Deus... e é Ele que estabelece para nós o direito ao Reino dos Céus, dom gratuito d’Ele, no consolo, na misericórdia, na justiça e na contemplação da face d’Ele.
Isso não nos garante vida sem sofrimento; mas, nos dá um olhar diferente, capaz de perceber o futuro, já sendo construído, e experimentar em nossa vida cotidiana a graça que garante a fidelidade generosa. Nada é proibido neste texto, mas Deus mesmo assume compromisso com a humanidade.   
O Sermão da Montanha não pode ser visto fora do contexto do Reino. Hoje, sabemos que o Sermão da Montanha, que Mateus apresenta como o primeiro dos seus cinco discursos, é uma composição de muitos dizeres de Jesus. Mateus os teceu juntos em um texto coerente. Temos que imaginar cada um desses dizeres como resumo de algo como uma discussão, ou sermão, ou algum ensinamento importante, que talvez fosse resposta a uma pergunta feita. Esses ditados isolados foram primeiro reunidos dentro do Sermão da Planície na tradição oral. Disso, por sua vez, o Sermão da Planície de Lucas, e o Sermão da Montanha de Mateus se desenvolveram. Chama-se o Sermão da Montanha porque Jesus proclamou a mensagem e as normas da Nova Aliança de um local elevado. Como Moisés, que, de uma montanha proclamou os dez mandamentos que formaram a base do Antigo Testamento, agora Jesus proclama os mandamentos que construirão os alicerces da Nova Aliança. Lucas tem o Sermão da Planície, que parece ser uma versão anterior do Sermão das Montanha. É mais resumido e difere de uma maneira significante da versão de Mateus.
            Um primeiro elemento que chama a atenção no texto de hoje é o fato de que a primeira e a última bem-aventurança estão com o verbo no presente - o Reino já é dos pobres em espírito e dos perseguidos por causa da justiça - na verdade as mesmas pessoas, pois os que buscam a justiça são “pobres em espírito”. Eles já vivem a dependência total de Deus, pois só com Ele esses valores podem vigorar. Mas, quem luta pela justiça será perseguido - e quem não se empenha nessa luta jamais poderá ser “pobre em espírito”.
            As outras bem-aventuranças traçam as características de quem é pobre em espírito. É aflito, por causa das injustiças e do sofrimento dos outros, causados por uma sociedade materialista e consumista. É manso, não no sentido de passividade, mas porque não é movido pelo ódio e violência que marcam a ganância e a truculência dos que dominam, “amansando” os pobres e fracos. Encarna o paradoxo da força transformadora da não violência, tão bem vivenciado por pessoas tão diferentes como Jesus de Nazaré, Gautama Buddha, Francisco de Assis, Mahatma Ghandi, Martin Luther King, Dom Helder Câmara e Dom Oscar Romero, entre outros - pessoas que tiveram uma influência determinante sobre o mundo, enquanto os violentos passam esquecidos ou escoriados nas pegadas da história.
            Têm fome da justiça do Reino, não a dos homens, que tantas vezes não passa de uma legitimação oficial da exploração e do privilégio, uma desordem institucionalizada, como tantas vezes presenciamos no Brasil. Possui coração compassivo, como o próprio Pai do Céu, e é “puro de coração”, sem ídolos e falsos valores. Promove a paz, não “a paz que o mundo dá” (Jo 14, 27), mas o “shalom”, a paz que nasce do projeto de Deus, quando existe a justiça do Reino. O “Shalom” existe quando há o bem-estar total para todos/as.
            Mas, Jesus deixa clara a consequência de assumir esse projeto de vida - a perseguição! Pois um sistema baseado em valores anti-evangélicos não pode aguentar quem a contesta e questiona, algo que a história dos mártires do nosso continente testemunha muito bem. Qualquer Igreja cristã que é bem aceita e elogiada pelo sistema hegemônico precisa se questionar sobre a sua fidelidade à vivência das bem-aventuranças do Sermão da Montanha. O martírio (testemunho) é pedra-de-toque dessa fidelidade. Podemos agradecer a Deus pelo testemunho profético das bem-aventuranças que nos foi dado, por exemplo, pela Irmã Dorothy Stang pelo Bispo Frei Luiz Cappio, bem como o das vidas de tantos Santos e Santas que nunca vão receber a honra dos altares, mas que são consagrados como tais na memória de nosso povo.


 

sábado, 1 de outubro de 2011

31° Domingo Comum - Ano A

Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD

TRIGÉSIMO PRIMEIRO DOMINGO COMUM - Ano A

Mt 23, 1-12

“O maior dentro vós será vosso servo”

 
   
O capítulo 23 de Mateus funciona como um tipo de dobradiça, que termina a série de parábolas de julgamento e as controvérsias com as lideranças judaicas, que se iniciaram em 21, 23, e ao mesmo tempo introduz o último grande discurso, o da parusia, de Cap. 24-25. Contém algumas das linhas mais virulentas da Bíblia, palavras que - embora colocadas na boca de Jesus - refletem o ambiente polêmico de condenação mútua que existia entre a comunidade mateana e a liderança farisaica da sinagoga, especialmente depois de 85 d.C., quando as duas comunidades estavam engajadas em uma luta pela hegemonia do judaísmo, depois da destruição do Templo de Jerusalém.
    É necessário entender que a comunidade de Mateus era formada quase totalmente por cristãos judeus, que se entenderam dentro do judaísmo. Porém, no esforço de reconstruir o judaísmo depois do desastre de 70 d.C., quando Jerusalém foi destruída, os fariseus assumiram a liderança e quiseram impor a sua interpretação da Lei sobre as sinagogas. A comunidade de Mateus rejeitava essa pretensão e assim entrou em conflito aberto com a liderança farisaica do judaísmo formativo. É esse ambiente de polêmica e acusação mútua que está subjacente aos textos do capítulo 23.
    Diferente da comunidade de Marcos ou de Lucas, a de Mateus se preocupa ainda com a vivência da Lei - mas, rejeita a interpretação farisaica, que classifica como “amarrar fardos pesados” (v. 4). Desautoriza os fariseus, não pelo que falam, mas pelo que vivem - e adverte os membros da comunidade contra a tentação de praticar atos religiosos externos, para serem louvados pelos outros, e também contra o perigo de assumir títulos para se vangloriarem. Volta a insistir, como em outros trechos dos evangelhos, na necessidade de ser “grande” através do serviço aos irmãos.
 Mesmo tirando o contexto polêmico histórico, que não vale para hoje, as palavras do nosso texto são atuais para os nossos dias. Pois, as tentações do poder e de prestígio são perenes! Se Mateus sentiu a necessidade de advertir os seus membros contra esses perigos, sem dúvida foi porque muita gente estava gostando dos elogios e títulos e descuidando do serviço humilde. Vale para nós hoje - e especialmente para quem tem qualquer liderança ou posição de destaque nas comunidades eclesiais! Todos esses ministérios existem para o serviço, e não para a glória própria.
Quanta correria às vezes atrás de títulos e rótulos, de manifestações externas de importância e prestígio! Por isso, o evangelho nos lembra que nosso único mestre é Jesus! Ele que mais provou, pela palavra e pela vida, que “o maior dentre vos será o vosso servo; todo aquele que se exalta será humilhado, e todo aquele que se humilha, será exaltado” (v. 12). Essas palavras combatem qualquer abuso de poder, mesmo incipiente, que eventualmente se acha entre as nossas lideranças, sejam elas ordenadas ou leigas. Todos nós somos sujeitos a cair nessa tentação. Que Jesus seja o nosso exemplo!

 

30° Domingo Comum - ano A


Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD

TRIGÉSIMO DOMINGO COMUM - Ano A

Mt 22, 34-40

 

“Desses dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas”

Oração do dia
Deus eterno e todo-poderoso, aumentai em nós a fé, a esperança e a caridade e dai-nos amar o que ordenais para conseguirmos o que prometeis. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Evangelho (Mateus 22,34-40)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
22,34 Sabendo os fariseus que Jesus reduzira ao silêncio os saduceus, reuniram-se
35 e um deles, doutor da lei, fez-lhe esta pergunta para pô-lo à prova:
36 “Mestre, qual é o maior mandamento da lei?”
37 Respondeu Jesus: “‘Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito’.
38 Este é o maior e o primeiro mandamento.
39 E o segundo, semelhante a este, é: ‘Amarás teu próximo como a ti mesmo’.
40 Nesses dois mandamentos se resumem toda a lei e os profetas”.
Palavra da Salvação.

Comentário ao Evangelho

Hoje, temos mais uma das controvérsias do Capítulo 22, esta vez com os fariseus. De novo, a pergunta feita por um legista não é para descobrir a verdade, mas para armar uma cilada para Jesus - o verbo traduzido aqui como “para O pôr à prova” é o mesmo usado em v. 22, 8 (“armar cilada”). O que seria o maior mandamento era discutido entre as diversas escolas rabínicas da época - para alguns o maior era o amor a Deus, para a maioria era a observância do sábado. O Antigo Testamento enfatiza a importância de amar a Deus e de amar o próximo (Lv 19, 18 e Dt 6, 5). A originalidade de Jesus está no fato de Ele assemelhar um ao outro, dando-lhes igual importância e, sobretudo, na simplificação e concentração da Lei (que tinha 613 mandamentos) em esses dois elementos. A colocação de Jesus exige uma forma correta de amor próprio - não de egoísmo, mas de auto-respeito. A ligação íntima dos dois mandamentos não é atestada antes de Jesus e marca um avanço moral importante.
Mais uma vez Jesus desloca o eixo da questão, como fez domingo passado na passagem sobre o imposto a César. Esta vez Ele se recusa a entrar em discussões fúteis sobre leis, para enfatizar o papel central do amor - tanto a Deus como ao próximo.
É importante frisar que o “amor” de que Jesus fala não é um mero sentimento ou emoção, como muitas vezes ocorre na linguagem de hoje. O amor é uma atitude de vida, uma fidelidade à Aliança com Deus, uma vivência solidária com os irmãos e irmãs. Obviamente, não é possível simpatizarmo-nos com cada pessoa, nem gostar de cada pessoa. Mas, é possível superar antipatias e aversões, na caminhada da construção do projeto de Deus para o nosso mundo.
A ligação essencial entre o amor a Deus e ao próximo torna-se muito urgente hoje em dia, quando se dá tanto espaço a pregações intimistas e formas alienantes de “espiritualidade”, que muitas vezes não passam de uma busca disfarçada de auto-realização, mas que jamais levam a um compromisso com a transformação da nossa realidade. A frase de Jesus desautoriza qualquer pregação religiosa que separa o amor a Deus do amor ao próximo - um amor não somente afetivo (que talvez muitas vezes nem possa ser), mas, efetivo - concretizando de maneira prática a solidariedade e a justiça.
O nosso texto nos adverte contra qualquer tendência alienante ou legalista - os mandamentos não são para serem discutidos, mas vividos no amor e no compromisso. Para os rabinos do tempo de Jesus, o mundo todo dependia da Lei, do serviço no Templo e dos atos de bondade. Mateus fez com que a própria Lei dependesse dos atos de amor solidário. Esse avanço feito por Jesus desafia a todos nós para que não caiamos na tentação perene de separar os dois aspectos do amor - não é possível amar a Deus sem que amemos o irmão, e o verdadeiro amor ao próximo brota do nosso amor a Deus.

Salmo 17/18

Eu vos amo, ó Senhor, sois minha força e salvação. 

Eu vos amo, ó Senhor! Sois minha força, 
Minha rocha, meu refúgio e salvador! 
Ó meu Deus, sois o rochedo que me abriga, 
Minha força e poderosa salvação. 

Eu vos amo, ó Senhor, sois minha força e salvação. 

Ó meu Deus, sois o rochedo que me abriga, 
meu escudo e proteção: em vós espero! 
Invocarei o meu Senhor: a ele a glória! 
E dos meus perseguidores serei salvo! 

Eu vos amo, ó Senhor, sois minha força e salvação. 

Viva o Senhor! Bendito seja o meu rochedo! 
E louvado seja Deus, meu salvador! 
Concedeis ao vosso rei grandes vitórias 
E mostrais misericórdia ao vosso ungido.

Eu vos amo, ó Senhor, sois minha força e salvação.