Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
Vigésimo Quarto Domingo Comum
Mt 18, 21-35
“Não lhe digo sete vezes, mas até setenta vezes sete”
Oração
do dia
Ó Deus, criador de todas
as coisas, volvei para nós o vosso olhar e, para sentirmos em nós a ação do vosso
amor, fazei que vos sirvamos de todo o coração. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo.
Evangelho (Mateus 18,21-35)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo
segundo Mateus.
18,21 Então
Pedro se aproximou dele e disse: "Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu
irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?"
22 Respondeu Jesus: "Não
te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.
23 Por isso, o Reino dos
céus é comparado a um rei que quis ajustar contas com seus servos.
24 Quando começou a ajustá-las,
trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos.
25 Como ele não tinha com
que pagar, seu senhor ordenou que fosse vendido, ele, sua mulher, seus filhos e
todos os seus bens para pagar a dívida.
26 Este servo, então, prostrou-se
por terra diante dele e suplicava-lhe: 'Dá-me um prazo, e eu te pagarei tudo!'
27 Cheio de compaixão, o
senhor o deixou ir embora e perdoou-lhe a dívida.
28 Apenas saiu dali, encontrou
um de seus companheiros de serviço que lhe devia cem denários. Agarrou-o na garganta
e quase o estrangulou, dizendo: 'Paga o que me deves!'
29 O outro caiu-lhe aos
pés e pediu-lhe: 'Dá-me um prazo e eu te pagarei!'
30 Mas, sem nada querer
ouvir, este homem o fez lançar na prisão, até que tivesse pago sua dívida.
31 Vendo isto, os outros
servos, profundamente tristes, vieram contar a seu senhor o que se tinha passado.
32 Então o senhor o chamou
e lhe disse: 'Servo mau, eu te perdoei toda a dívida porque me suplicaste.
33 Não devias também tu
compadecer-te de teu companheiro de serviço, como eu tive piedade de ti?'
34 E o senhor, encolerizado,
entregou-o aos algozes, até que pagasse toda a sua dívida.
35 Assim vos tratará meu
Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão, de todo seu coração.
Palavra da Salvação.
Comentário ao Evangelho
Este texto trata do último dos problemas comunitários
no discurso de capítulo 18, o perdão. Mais uma vez é Pedro que articula em
palavras o desafio cristão, “quantas vezes devo perdoar o meu irmão?” e
responde ele mesmo, sugerindo “sete vezes”, com certeza achando que agir assim
seria um exagero. Mas, para Jesus não basta o discípulo agir segundo os
critérios desse mundo – o nosso modelo de ação sempre deve ser o Pai. Por isso,
exige “não somente sete vezes, mas setenta vezes sete”, ou seja, para quem
realmente quer se modelar em Deus, o perdão tem que ser sem limites. A frase
lapidar é tirada da tradição comum que Mt partilha com Lucas, (Lc 17, 4); mas,
Mateus acrescenta a parábola dos servos, para ilustrar a necessidade de
misericórdia sem fim.
A ideia básica inverte a posição sangrenta e vingativa
de Lamec em Gn 4, 24: “Se a vingança de Caim valia por sete, a de Lamec valerá
por setenta e sete!” O cristão tem que deixar definitivamente por trás todo
sentimento de vingança e assumir os novos valores do Reino de Deus, entre os
quais tem lugar de destaque, o perdão.
A parábola provavelmente foi composta pelo autor
mesmo, para ilustrar um dos pedidos do Pai Nosso, “perdoa-nos as nossas
dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores”. Fazendo esse pedido,
estamos querendo o perdão de Deus para que, experimentando-o, consigamos
perdoar os nossos devedores (originalmente se referiu realmente às dívidas
financeiras, mas aplica-se às ofensas em geral). Não é que o perdão de Deus
depende do nosso – é sempre Deus que toma a iniciativa e nós que respondemos. Mas,
somos capazes de render nulo o efeito do perdão do Pai, se nós não queremos
perdoar os outros. Assim, o Pai continua querendo nos perdoar; mas, nós
cortamos o efeito dessa gratuidade divina.
Obviamente, o perdão envolve um processo todo, que
abrange não somente a parte espiritual, mas também psicológica, da pessoa. Não
se consegue eliminar os efeitos das ofensas de uma só vez. Mas, o importante é
o “querer” perdoar. O próprio desejo já é o perdão, pois é somente com a graça
divina que nós conseguiremos perdoar mesmo. Mas, quando esse desejo é ausente,
nem o perdão do Pai penetra a barreira que nós erguemos e o seu perdão fica sem
frutos.
A proposta do texto de hoje é além das nossas forças
humanas; mas, não além da possibilidade da graça divina. Por isso temos que sempre
pedir o dom do perdão, conforme nos ensina a Oração do Senhor, para que as
nossas comunidades sejam verdadeiramente sinais do Reino e não meramente
aglomerações de pessoas que partilham as mesmas teorias teológicas, mas, sem
que essas influenciem na sua vivência, na sua prática. Da nossa parte exige-se
esforço, e Deus dará a força, para que vivamos conforme o desafio do Sermão da
Montanha: “sejam perfeitos, como o Pai do Céu de vocês é perfeito” (Mt 5, 48).
Salmo
102/103
O
Senhor é bondoso, compassivo e carinhoso.
Bendize, ó minha alma,
ao Senhor,
e todo o meu ser, seu
santo nome!
Bendize, ó minha alma,
ao Senhor,
não te esqueças de nenhum
de seus favores!
O
Senhor é bondoso, compassivo e carinhoso.
Pois
ele te perdoa toda culpa
e cura toda a tua enfermidade;
da sepultura ele salva
a tua vida
e te cerca de carinho
e compaixão.
O
Senhor é bondoso, compassivo e carinhoso.
Não
fica sempre repetindo as suas queixas
nem guarda eternamente
o seu rancor.
Não nos trata como exige
nossas faltas
nem nos pune em proporção
às nossas culpas.
O
Senhor é bondoso, compassivo e carinhoso.
Quanto os céus por sobre
a terra se elevam,
tanto é grande o seu amor
aos que o temem;
quanto dista o nascente
do poente,
Tanto afasta para longe
nossos crimes.
O
Senhor é bondoso, compassivo e carinhoso.
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