quinta-feira, 4 de agosto de 2011

19º Domingo Comum - ano A


Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD


DÉCIMO NONO DOMINGO COMUM
Mt 14, 22-33
“Coragem! Sou eu! Não tenham Medo!”

Oração do dia
Deus eterno e todo-poderoso, a quem ousamos chamar de Pai, dai-nos cada vez mais um coração de filhos, para alcançarmos um dia a herança que prometestes. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Evangelho - Mt 14,22-33

+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus
Depois da multiplicação dos pães, 14,22Jesus mandou que os discípulos entrassem na barca e seguissem, à sua frente, para o outro lado do mar, enquanto ele despediria as multidões. 23Depois de despedi-las, Jesus subiu ao monte, para orar a sós. A noite chegou, e Jesus continuava ali, sozinho. 24A barca, porém, já longe da terra, era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário. 25Pelas três horas da manhã, Jesus veio até os discípulos, andando sobre o mar. 26Quando os discípulos o avistaram, andando sobre o mar, ficaram apavorados, e disseram: 'É um fantasma'. E gritaram de medo. 27Jesus, porém, logo lhes disse: 'Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!' 28Então Pedro lhe disse: 'Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água.' 29E Jesus respondeu: 'Vem!' Pedro desceu da barca e começou a andar sobre a água, em direção a Jesus. 30Mas, quando sentiu o vento, ficou com medo e começando a afundar, gritou: 'Senhor, salva-me!' 31Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro, e lhe disse: 'Homem fraco na fé, por que duvidaste?' 32Assim que subiram no barco, o vento se acalmou. 33Os que estavam no barco, prostraram-se diante dele, dizendo: 'Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!' - Palavra da Salvação.



COMENTÁRIO

É comum ler nos jornais e revistas os resultados de pesquisas que apontam o medo e a insegurança entre as principais preocupações do nosso povo, especialmente nas cidades - o medo da violência, do desemprego, da pobreza, da solidão, da velhice e muitos outros. O medo parece até tomar conta de uma boa parte de nossas instituições - o medo de tomar as medidas necessárias para justas reformas - agrária, política e econômica - por parte das autoridades competentes; o medo de muitos líderes religiosos diante dos desafios do mundo da pós-modernidade, pluralista e globalizada, levando até à paralisia e ao fechamento; o medo de procurar novas soluções para novos desafios. O medo parece ser a força motora da atividade - ou da falta da mesma - de muitas pessoas, grupos e instituições.
A comunidade eclesial onde nasceu o Evangelho de Mateus também sentia medo. Os seus membros (na sua maioria judeu-cristãos, bem diferente etnicamente e de tradição religiosa, das comunidades lucanas) enfrentavam oposição e perseguição por parte das autoridades das sinagogas. A comunidade estava em luta com o chamado “judaísmo formativo”, para definir o rumo que o judaísmo tomaria depois do desastre de 70 d.C. quando foram destruídos Jerusalém e o Templo. Com a eliminação, pela repressão romana ou por guerra civil, dos Saduceus, dos Zelotas e dos Essênios, somente dois grupos organizados sobreviveram para disputar a hegemonia dentro do judaísmo - o grupo de cunho farisaico e o grupo judeu-cristão, representado pela comunidade de Mateus. Era uma luta de muita radicalidade, como costuma acontecer nas brigas fratricidas. O sofrimento da comunidade de Mateus é retratado em Mt 10, 22: “Sereis odiados por todos por causa do meu nome. Mas quem perseverar até o fim será salvo”.
É neste contexto que se entende o texto de hoje. Os discípulos, ao verem Jesus, acham que é um fantasma e ficam apavorados. A comunidade de Mateus era semelhante - diante da perseguição e do sofrimento, Jesus parecia para eles um fantasma - uma ilusão, uma fugacidade, incapaz de dar sustento à sua vida comunitária de fé, no contexto da perseguição. Diante do medo dos discípulos, Jesus é taxativo: “Coragem! Não tenham medo! Sou eu!” Mateus relata essa história - acrescentando esses elementos em comparação com o texto mais sóbrio de João 6, 16-21 - para ajudar a sua comunidade a entender que Jesus não é um fantasma, mas uma presença real, vivificante, fortalecedora e libertadora no meio da comunidade, especialmente na hora das dificuldades e perseguições.
Tipicamente, o Evangelho de Mateus destaca a figura de Pedro (como também em 16,13-20; 17, 24-27). Pedro era personagem muito importante em Antioquia, talvez o local da última redação de Mateus. Aqui Pedro é o protótipo do discípulo - cheio de amor, mas com uma fé enfraquecida pela dúvida. O estender da mão de Jesus é um convite a Pedro, à comunidade de Mateus, e a nós hoje para dar uns passos para o desconhecido, para não nos fechar nas nossas seguranças, frequentemente falsas, que nós mesmos construímos; mas, de ter a coragem de enfrentar os ventos da vida, mesmo quando contrários, pois Jesus está realmente conosco, e como disse Paulo “Se Deus está conosco, quem estará contra nós?” (Rm 8, 31).
Ter fé e não ter medo por causa de Jesus não quer dizer: “Não tenham medo, confiem em Deus, e Ele garantirá que as coisas que os amedrontam não lhes acontecerão”, mas antes: “Não tenham medo, confiem em Deus. É bem possível que as coisas que os amedrontam vão lhes acontecer, mas não devem ter medo disso, porque Deus estará ao seu lado”!
A fé em Deus não tira os nossos sofrimentos e dificuldades, como querem tantos hoje, mas nos dá as forças necessárias para vencê-los. Deus não é um analgésico para as dores e dificuldades da vida, mas uma presença amorosa que anima, fortalece e estimula, pois, como disse Paulo “a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” (1Cor 1, 25).



Salmo - Sl 84,9ab-10.11-12.13-14 (R. 8)

R. Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade,
e a vossa salvação nos concedei!

84,9aQuero ouvir o que o Senhor irá falar:*
9bé a paz que ele vai anunciar.
10Está perto a salvação dos que o temem,*
e a glória habitará em nossa terra.R.

R. Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade,
e a vossa salvação nos concedei!

11A verdade e o amor se encontrarão,*
a justiça e a paz se abraçarão;
12da terra brotará a fidelidade,*
e a justiça olhará dos altos céus.

R. Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade,
e a vossa salvação nos concedei!

13O Senhor nos dará tudo o que é bom,*
e a nossa terra nos dará suas colheitas;
14a justiça andará na sua frente*
e a salvação há de seguir os passos seus.

R. Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade,
e a vossa salvação nos concedei!




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