Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
Décimo Oitavo Domingo Comum
Décimo Oitavo Domingo Comum
Mt 14,13-21
“Dai-lhes vós mesmos de comer”
Oração do dia
Manifestais, ó Deus, vossa inesgotável bondade para com os
filhos e filhas que vos imploram e se gloriam de vos ter como criador e guia,
restaurando para eles a vossa criação e conservando-a renovada. Por Nosso
Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Evangelho - Mt 14,13-21
+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo
Mateus.
Naquele tempo: 14,13Quando
soube da morte de João Batista, Jesus partiu e foi de barco para um lugar
deserto e afastado. Mas quando as multidões souberam disso, saíram das cidades
e o seguiram a pé. 14Ao sair do barco, Jesus viu uma grande
multidão. Encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes. 15Ao
entardecer, os discípulos aproximaram-se de Jesus e disseram: 'Este lugar é
deserto e a hora já está adiantada. Despede as multidões, para que possam ir
aos povoados comprar comida!' 16Jesus porém lhes disse: 'Eles não
precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer!' 17Os discípulos
responderam: 'Só temos aqui cinco pães e dois peixes.' 18Jesus
disse: 'Trazei-os aqui.' 19Jesus mandou que as multidões se
sentassem na grama. Então pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos
para o céu e pronunciou a bênção. Em seguida partiu os pães, e os deu aos
discípulos. Os discípulos os distribuíram às multidões. 20Todos
comeram e ficaram satisfeitos, e dos pedaços que sobraram, recolheram ainda
doze cestos cheios. 21E os que haviam comido eram mais ou menos
cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças. Palavra da Salvação.
COMENTÁRIO
No Evangelho de Mateus, o texto do Evangelho de hoje vem logo após a história da morte de João Batista, ligada à festa de aniversário do Tetrarca Herodes Antipas. Mateus contrasta o “Banquete da Morte” promovida por Herodes, com “O Banquete da Vida”, protagonizado por Jesus!
O milagre normalmente chamado “A Multiplicação dos Pães”, é o único milagre de Jesus relatado nos quatro Evangelhos. Isso aponta à importância dada nas primeiras comunidades a este relato, tanto que a sua memória persistiu não somente nas comunidades da tradição Sinótica (Mc, Mt, e Lc), mas também na Comunidade do Discípulo Amado.
Mesmo fazendo leitura superficial dos quatro relatos (Mc 6, 30-44; Lc 9, 10-17; Mt 14, 13-21; Jo 6, 1-15), alguns elementos importantes soltam aos olhos: A reação dos discípulos diante do problema da fome da multidão. Nos Sinóticos, a solução sugerida por eles é a de despedir a turba para que pudesse comprar pão. Assim, ignora a situação dos que não tinham possibilidade de comprar! É a solução de muita gente hoje diante do escândalo da pobreza no mundo - que se virem! Cada um para si! Quem não tem condições, que se lasque! Jesus rejeita claramente essa “solução” - “Dai-lhes vós mesmos de comer!” Em João, Marcos e Lucas, a proposta de comprar pão para doá-lo também se revela uma solução inadequada. Jesus insiste “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Ele não aceita nem a solução de “lavar as mãos” diante da fome alheia ou de cair em um assistencialismo. Ele desafia a comunidade dos discípulos a achar uma saída baseada numa nova proposta de vida - a da partilha!
Em nenhum dos quatro relatos se usa o verbo “multiplicar”! O motivo é simples - se a ênfase caísse sobre o “multiplicar” milagroso, teria poucas consequências para os discípulos (nós, hoje), pois não temos possibilidade de “multiplicar” as coisas. Os verbos são bem escolhidos: “benzer, partir, dar, distribuir” - porque todos nós podemos partilhar os bens materiais e espirituais que temos.
O Brasil não precisa “multiplicar” terras, bens ou renda. Tem mais do que o suficiente. Mas é urgente partilhar e redistribuir os bens que Deus nos deu para o sustento de todos!
Menos do que João, mas muito mais do que Lucas e Marcos, Mateus liga a sua narrativa à instituição eucarística (Mt 26, 26). Também concentra a atenção nos pães, pois neste relato somente eles são distribuídos. Assim o texto nos lembra que a participação eucarística exige compromisso com uma visão social baseada na partilha dos bens necessários para a vida, e não na acumulação da parte de alguns, junto com a falta do básico para muitos. O cristão não pode compactuar com uma sociedade organizada conforme os princípios de Herodes; mas, deve lutar para a construção de uma sociedade em favor da vida, seguindo as pegadas de Jesus de Nazaré.
O texto de hoje relê Êx 16, (o maná), Nm 11 (as codornas) e 2Rs 4, 1-7.42-44 (onde Eliseu distribuiu óleo e pão). O texto do Êx. 16 enfatiza que a avareza de acumular coisas às custas dos outros leva à podridão.
É claro que diante do enorme sofrimento da maioria da população do mundo, a gente pode sentir-se tão impotente como se sentiram os discípulos no Evangelho de hoje. Mas, o texto nos ensina que não devemos cair na cilada de aceitar as saídas falsas propostas pela sociedade vigente e hegemônica - ou de “lavar as mãos” ou de cair somente num simples assistencialismo. O cristão, sustentado pela eucaristia, a Mesa da Palavra e a Mesa do Pão, deve se comprometer com uma visão cristã da sociedade, que exige que nós façamos o que é possível para a construção de um mundo de justiça, e fraternidade.
Há dois mil anos, Jesus olhou a multidão, teve compaixão dela e agiu. Com certeza, Ele olha hoje a situação de tantos irmãos e irmãs e pede que os seus seguidores façam algo para mudar a situação. É comum os jornais trazerem do aumento assustador da fome no mundo por causa da crescente falta de alimentos e do aumento dos preços de alimentos básicos. Paira sobre nós cristãos o desafio do texto de hoje: “Dai-lhes vos mesmo de comer!” O que significa isso na prática para mim, para você, para as nossas Igrejas, na situação concreta da nossa vida?
Salmo - Sl 144,8-9.15-16.17-18
(R.cf.16)
R. Vós abrís a vossa mão e saciais os vossos filhos.
8Misericórdia e piedade é o Senhor,*
ele é
amor, é paciência, é compaixão.
9O Senhor é muito bom para com todos,*
sua
ternura abraça toda criatura.
R. Vós abrís a vossa mão e saciais os vossos filhos.
15Todos os olhos, ó Senhor, em vós esperam *
e
vós lhes dais no tempo certo o alimento;
16vós abris a vossa mão prodigamente *
e saciais
todo ser vivo com fartura.
R. Vós abrís a vossa mão e saciais os vossos filhos.
17É justo o Senhor em seus caminhos,*
é santo em
toda obra que ele faz.
18Ele está perto da pessoa que o invoca,*
de todo
aquele que o invoca lealmente.
R. Vós abrís a vossa mão e saciais os vossos filhos.
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