Pe. Thomaz Hughes, SVD
DÉCIMO QUINTO DOMINGO COMUM
Mt 13, 1-23
“Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”
Oração do dia
Ó Deus, que mostrais a luz da verdade aos que erram para
retomarem o bom caminho, dai a todos os que professam a fé rejeitar o que não
convém ao cristão e abraçar tudo o que é digno desse nome. Por Nosso Senhor
Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Evangelho - Mt 13,1-9
+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo
Mateus
13,1Naquele dia, Jesus saiu de casa
e foi sentar-se às margens
do mar da Galiléia.
2Uma grande multidão reuniu-se em volta
dele.
Por isso Jesus entrou numa barca e sentou-se,
enquanto a multidão ficava
de pé, na praia.
3E disse-lhes muitas coisas em parábolas:
'O
semeador saiu para semear. 4Enquanto semeava,
algumas sementes
caíram à beira do caminho,
e os pássaros vieram e as comeram.
5Outras
sementes caíram em terreno pedregoso,
onde não havia muita terra.
As sementes
logo brotaram,
porque a terra não era profunda.
6Mas, quando o sol
apareceu,
as plantas ficaram queimadas e secaram,
porque não tinham raiz.
7Outras
sementes caíram no meio dos espinhos.
Os espinhos cresceram e sufocaram as
plantas.
8Outras sementes, porém, caíram em terra boa,
e produziram
à base de cem,
de sessenta e de trinta frutos por semente.
9Quem tem
ouvidos, ouça!
Palavra da Salvação.
COMENTÁRIO
Com o texto de hoje, entramos no capítulo 13 de Mateus, que, estruturalmente, é o centro do Evangelho. Tudo se concentra no ponto central da mensagem de Jesus: o Reino de Deus, que continua algo misterioso (v. 11). O capítulo consiste de sete parábolas - as parábolas do Reino - e alguma explicação delas. O trecho de hoje nos relata a parábola que é conhecida como a do semeador (embora o texto enfatize mais a semente), junto com uma explicação do seu sentido.
O que é uma parábola? Um exegeta, C.H. Dodd, deu a seguinte definição: “Parábola: uma metáfora tirada da vida diária ou da natureza, que chama a atenção do ouvinte pelas imagens vivas ou estranhas, e que deixa-o com dúvida suficiente sobre o seu sentido exata para que seja estimulado a refletir por si mesmo.” A parábola de hoje usa imagens conhecidas na Palestina rural do então - a semeadura - e na sua forma original não trazia explicação. Terminava com o desafio de Jesus para que os ouvintes aprofundassem por si mesmos o seu sentido: “quem tem ouvidos para ouvir, ouça”.
Para entender as imagens, é bom lembrar que, na Palestina antiga, se jogava a semente antes de arar a terra. Por isso, alguma semente caía nas picadas que atravessavam os campos “à beira do caminho”; outra parte seria logo queimada pelo sol terrível do país; outra parte, comida pelas aves, outra parte perdida porque a terra era rala e cheia de ervas daninhas. Mas, uma parte cairia em terra fértil que dava frutos, conforme a sua possibilidade.
Provavelmente a explicação dada em vv. 18-23 nasceu mais tarde, durante a catequese da Igreja primitiva. Assim, no início podemos supor que o semeador era Deus, Jesus, ou um emissário d’Eles; a semente seria a Palavra de Deus e os tipos diferentes de solo, as respostas diferentes dos ouvintes. Alguns deixam o fascínio do mal, nas suas diversas formas, roubar a semente; outros acolhem a Palavra; mas, de uma maneira superficial, e não demora muito para que se torna infrutífera nas suas vidas. Outros aceitam a Revelação divina, mas a colocam em segundo plano, enquanto correm atrás das riquezas de um mundo consumista. Relegando assim Deus e o seu projeto, fazem com que a religião se torne algo de fachada, que em nada ajuda o Reino a crescer. Mas, a finalidade da história é de dar esperança. Embora haja muitos fracassos, em última instância o trabalho do semeador dá certo - sempre há pessoas que recebem com entusiasmo a Palavra, e suas vidas, baseadas na fé viva, dão muitos frutos. Não é necessário que todos deem frutos iguais - mas que todos deem conforme as suas possibilidades, cem, sessenta e trinta por um.
Depois de dois mil anos de semeadura, cabe perguntar sobre os frutos da semeadura na nossa sociedade, dita cristã. Depois de quinhentos anos das Igrejas no Brasil, será que o solo - nós cristãos – temos dado os frutos de uma sociedade justa e fraterna, conforme o desejo de Deus? Estamos sendo - individualmente e comunitariamente - quê tipo de solo? Deixamos a semente penetrar no solo dos nossos corações, ou deixamos a semente na superfície, como a que caiu à beira do caminho? Ou a aceitamos através da catequese sacramental e da tradição familiar, sem aprofundá-la, ficando numa prática estéril para manter aparências e tradição, mas que não afeta em nada a sociedade? Ou deixamos os espinhos modernos - as tentações de uma sociedade materialista, consumista, de competitividade - sufocar as reações de fraternidade e solidariedade que devem marcar os que acolhem a Palavra? Ou, com a graça de Deus, procuramos ser solo fértil, onde a fertilidade inerente na semente possa brotar em frutos de bondade e justiça, conforme as nossas possibilidades, deixando acontecer o que profetizou Segundo-Isaías: “Assim acontece com a minha Palavra que sai da minha boca: ela não volta para mim sem efeito, sem ter realizado o que eu quero e sem ter cumprido com sucesso a missão para a qual eu a mandei” (Is 55, 11). O semeador é Deus, a semente é boa - mas que tipo de solo sou eu, somos nós? “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!”
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