Pe. Thomaz Hughes, SVD
DÉCIMO QUARTO DOMINGO COMUM
Mt 11, 25-30
“Eu te louvo, Pai, ... porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos”
Oração
Ó Deus, que pela humilhação do vosso
Filho reerguestes o mundo decaído, enchei os vossos filhos e filhas de santa
alegria e Dai aos que libertastes da escravidão do pecado o gozo das alegrias
eternas. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito
Santo.
Evangelho (Mateus
11,25-30)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo
Mateus.
Por aquele tempo, Jesus pronunciou
estas palavras: 11 25 “Eu
te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos
sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos. 26Sim, Pai, eu te bendigo, porque assim foi do teu
agrado. 27 Todas as coisas me foram dadas
por meu Pai; ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai,
senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelá-lo. 28 Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob
o fardo, e eu vos aliviarei. 29 Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha
doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as
vossas almas. 30Porque meu jugo é suave e meu peso é
leve.
Palavra da Salvação.
Comentário
Os primeiros três versículos desse texto não têm uma vinculação muito estreita com o contexto em que Mateus os coloca (Lucas situa o ditado num outro contexto), e por isso “essas coisas” não se refere ao que veio antes no capítulo (a condenação de Corozaim e Betsaida), mas aos “mistérios do Reino”, que são revelados aos pequenos e humildes - neste contexto os discípulos - e escondidos aos que se acham auto-suficientes na sua sabedoria e estudo - os fariseus e doutores da Lei (Mt 13, 11). Essa oração de louvor de Jesus brotava da sua própria experiência na missão - que enquanto a sua pessoa, ensinamento e projeto de vida foram rejeitados pela elite política, econômica e religiosa da época, os pobres e massacrados pelo sistema o acolheram. A auto-suficiência da elite impediu que ela pudesse reconhecer a verdade de Jesus. Os pobres, com a sua espiritualidade do Servo de Javé, conseguiram em grande parte acolhê-Lo, mesmo sem compreender inteiramente a profundeza da sua identidade.
O texto tem ecos da literatura sapiencial e apocalíptica. Dos Sapienciais, podemos ver reflexos de Pr 8, onde a Sabedoria é personificada, Eclo 51, 1-12, 13-30 e Sab 6-8. Mas também nos faz lembrar de textos apocalípticos como Daniel, onde os sábios são incapazes de decifrar o sentido do sonho de Nabucodonosor (Dn 2, 3-13), enquanto o humilde Daniel, confiando na revelação divina, louva a Deus por lhe ter dado a sabedoria (Dn 2, 23) e revela que se trata do Reino fundado pelo próprio Deus (Dn 2, 44). No tempo de Jesus, os sábios também não conseguem decifrar os mistérios do Reino de Deus, um dom que é dado aos humildes. Em Mateus, os pequenos são os discípulos (Mt 10, 42) a quem são revelados o mistério do Reino dos Céus (Mt 13, 11).
Os versículos 26-28 são importantes, pois afirmam o relacionamento único entre Jesus e o seu “Abbá”, Pai. Aqui, a comunidade mateana expressa a sua fé em Jesus como Filho Absoluto do Pai Absoluto. É uma de três passagens em Mateus, nas quais Jesus expressa, de uma maneira indireta, ter uma relação única com Deus, seu Pai. As outras são Mt 21, 37 e 24, 36.
A imagem do “jugo” era bastante conhecida já no Antigo Testamento (Jr 2, 20; Jr 5, 5; Os 10, 11). No judaísmo do tempo de Jesus era usada como imagem da Lei de Deus, escrita e oral (Eclo 6,24-30; 51, 26s). O termo não tinha necessariamente uma conotação de peso ou opressão quando usado assim. O nosso texto usa a imagem corrente para contrastar a interpretação farisaica da Lei, que oprimia o povo com exigências casuísticas e conceitos que excluíam muitos, com a interpretação de Jesus, que não rejeita a Lei, mas lhe devolve o seu sentido original - uma garantia de manter vivo na comunidade o projeto libertador de Javé. O problema não estava na Lei, mas na sua interpretação. Para os doutores, as práticas externas eram tão exigentes que ofuscavam o rosto misericordioso de Deus, tornando a vivência religiosa um pesadelo para muitos. A interpretação de Jesus não é “light” - é exigente, pois exige uma vivência de fraternidade, uma luta pela solidariedade e libertação e a rejeição de todo egoísmo e individualismo. No fundo, é mais exigente do que a dos fariseus, pois não se esgota em práticas externas, mas em um processo infinito de doação de si. Mas, Ele garante que este projeto de vida, por tão exigente que seja, trará a alegria do Reino de Deus.
Esses últimos versículos nos levam a rever a nossa pregação, a nossa interpretação da Lei de Deus, a nossa prática pastoral. Pois, ao longo da história, muitas vezes a pregação nas Igrejas e na catequese tem sido uma série de legalismos moralizantes, reduzindo o cristianismo a uma prática externa de normas. Não poucas vezes, colocando fardos pesados sobre os menos fortes, sem que fosse oferecido para eles qualquer ajuda para carregá-los. Frequentemente, o seguimento de Jesus se reduzia ao cumprimento de leis, ou à vivência de uma moral ou ética, sem a revelação do Deus misericordioso e compassivo, o Deus de vida. Jesus nos mostra que, embora a religião exija leis e moral, fundamentalmente é uma mística, uma experiência do amor de Deus que nos convida a assumir o seu jugo como resposta, um jugo que não mata, mas que liberta, que não esconde o rosto de Deus, mas, que traz a alegria do Reino!
Salmo 144/145
Bendirei, eternamente, vosso nome, ó
Senhor!
Ó meu Deus, quero exaltar-vos, ó meu
rei,
bendizer o vosso nome pelos séculos.
Todos os dias haverei de bendizer-vos,
hei de louvar o vosso nome para sempre.
Bendirei, eternamente, vosso nome, ó
Senhor!
Misericórdia e piedade é o Senhor,
ele é amor, é paciência, é compaixão.
O Senhor e muito bom para com todos,
sua ternura abraça toda criatura.
Bendirei, eternamente, vosso nome, ó
Senhor!
Que vossas obras, ó Senhor, vos
glorifiquem,
e os vossos santos com louvores vos
bendigam!
Narrem a glória e o esplendor do vosso
reino
e saibam proclamar vosso poder!
Bendirei, eternamente, vosso nome, ó
Senhor!
O Senhor é amor fiel em sua palavra,
é santidade em toda obra que ele faz.
Ele sustenta todo aquele que vacila
e levanta todo aquele que tombou.
Bendirei, eternamente, vosso nome, ó
Senhor!
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