quinta-feira, 30 de junho de 2011

São Pedro e São Paulo



Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD

FESTA DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

Mt 16, 13-19

“Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”




Oração do dia
Senhor nosso Deus, concedei-nos os auxílios necessários à salvação pela intercessão dos apóstolos são Pedro e são Paulo, pelos quais destes à vossa Igreja os primeiros benefícios da fé. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Evangelho - Mt 16,13-19

+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 16,13-19

Naquele tempo:
 16,13Jesus foi à região de Cesaréia de Filipe
e ali perguntou aos seus discípulos:
"Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?"
 14Eles responderam:
"Alguns dizem que é João Batista; outros que é Elias;
Outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas".
 15Então Jesus lhes perguntou:
"E vós, quem dizeis que eu sou?"
 16Simão Pedro respondeu:
"Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo".
 17Respondendo, Jesus lhe disse:
"Feliz es tu, Simão, filho de Jonas,
porque não foi um ser humano que te revelou isso,
mas o meu Pai que está no céu.
 18Por isso eu te digo que tu és Pedro,
e sobre esta pedra construirei a minha Igreja,
e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. 
19Eu te darei as chaves do Reino dos Céus:
tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus;
tudo o que tu desligares na terra 
será desligado nos céus".
Palavra da Salvação.

COMENTÁRIO

      Hoje a Igreja celebra a festa dos dois grandes apóstolos, Pedro e Paulo. Como evangelho do dia, escolheu-se a história do caminho de Cesareia de Felipe. O relato mais antigo está em Marcos, Cap. 8, 27-38, que se tornou o pivô de todo o Evangelho. A estrutura de Mateus é diferente; mas, o relato tem a mesma finalidade, ou seja, clarificar quem é Jesus e o que significa ser discípulo d’Ele.

A pedagogia do relato é interessante. Primeiro Jesus faz uma pergunta aparentemente inócua: “Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?” Assim recebe diversas respostas, pois esta pergunta não compromete, é o “diz que”. Mas a segunda pergunta traz a facada: “E vocês, quem dizem que eu sou?” Agora não vêm muitas respostas, pois quem responde em nome pessoal, e não dos outros, se compromete com as consequências! Somente Pedro se arrisca e proclama a verdade sobre Jesus: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. Aparentemente, Pedro acertou e realmente, em Mateus, Jesus confirma a verdade do que proclamou! Afirmou que foi através de uma revelação do Pai que Pedro fez a sua profissão de fé. Mas, para que entendamos bem o trecho, é necessário que continuemos a leitura pelo menos até v. 25. Pois, o assunto é mais complicado do que possa parecer.

Pois, após afirmar que Pedro tinha falado a verdade, Jesus logo explica o que significa ser o Messias. Não era ser glorioso, triunfante e poderoso, conforme os critérios deste mundo. Muito pelo contrário, era ser fiel à sua vocação como Servo de Javé, era ser preso, torturado e assassinado, era dar a vida em favor de muitos. Jesus confirmou que, de fato, era o Messias, mas não do jeito que Pedro quis. Este, conforme as expectativas do povo do seu tempo, quis um Messias forte e dominador, não um que pudesse ir, e levar os seus seguidores com Ele, até a Cruz! Por isso, Pedro remonta com Jesus, pedindo que nada disso acontecesse, e como recompensa ganha uma das frases mais duras da Bíblia: “Fique atrás de mim, satanás, você é uma pedra de tropeço para mim, pois não pensa as coisas de Deus, mas dos homens!” (v. 23). Pedro, cuja proclamação de fé mereceu ser chamada a pedra fundamental da Igreja (v. 18), é agora chamado de Satanás - o Tentador por excelência - e “pedra de tropeço” para Jesus! Pedro tinha os títulos certos para Jesus; mas, a prática errada! Usando os nossos termos de hoje, de forma um tanto anacrônica, podemos dizer que ele tinha ortodoxia, mas não ortopraxis!

Assim, Jesus usa o equívoco de Pedro para explicar o que significa ser seguidor d’Ele: “Se alguém quer me seguir, renuncie a se mesmo, tome a sua cruz, e siga-me” (v. 24). Ter fé em Jesus não é, em primeiro lugar, um exercício intelectual ou teológico, mas uma prática; o seguimento d’Ele na construção do seu projeto, até as últimas consequências.

Hoje, enquanto celebramos os nossos dois grandes missionários, a segunda pergunta de Jesus ressoa forte: para nós, quem é Jesus? Não para o catecismo, não para o Papa ou o Bispo ou Pastor, mas para cada de nós pessoalmente? No fundo a resposta se dá, não com palavras, mas pela maneira em que vivemos e nos comprometemos com o projeto de Jesus - Ele que veio para que todos “tivessem a vida e a vida plenamente!” (Jo 10, 10). Cuidemos para que não caiamos na tentação do equívoco de Pedro, a de termos a doutrina certa, mas a prática errada, de cairmos na tentação de substituir o caminho humilde e serviçal da cruz pela pompa e ritual, de esquecermos os valores do Reino de Deus para substituí-los com os valores da sociedade vigente. Pedro aprendeu ao longo da vida o que é ser discípulo, pois terminou crucificado também, mas não foi fácil a mudança de mentalidade. Paulo também teve que despojar-se da toda a sua formação farisaica, quando descobriu que a Lei não salva ninguém, mas somente a graça de Jesus.
Hoje, quando o pobre quase desaparece dos documentos oficiais da Igreja (embora o Espírito inspirasse os participantes da V Assembleia de CELAM em Aparecida a voltar a esta opção “com renovado vigor,” e o Papa Bento XVI insiste nessa opção em Verbum Domini), quando diversos setores da Igreja se esquecem de Vaticano II e do seu conceito do povo de Deus, torna-se mais importante do que nunca lembrar o ensinamento de Jesus sobre o discipulado: Ele “não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20, 28).

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